Ao Mar, de Auta de Souza – Análise

O poema “Ao Mar”, de Auta de Souza, retrata um diálogo emotivo entre um eu-lírico e o mar, explorando temas como solidão, tristeza e morte.

Atenção: o poema a seguir pode conter GATILHOS EMOCIONAIS para alguns ao falar de solidão, desespero, angústia e morte.

Ao Mar, de Auta de Souza

Ontem à tarde, ao pé de ti sentada,
Eu pus-me a contemplar-te, ó Mar bravio!
Pensava que acolhida em tuas ondas
Talvez minh’alma não sentisse frio!

Contei-te, uma por uma, as cruas dores
De minha vida, toda de saudade;
Quis afogar as minhas mágoas fundas
No leito azul de tua imensidade.

Como seria bom morrer aí,
Moça, inocente, tendo n’alma em flor
Um mundo virgem de sagradas crenças,
Todo banhado no ideal do Amor!

Tu dar-me-ias, então, a sepultura
Nessas espumas murmurosas, belas…
E à noite, se mirando em tuas águas,
Me cobriria o Céu de mil estrelas.

Ao pé de ti, como um soluço brando,
Sinto fugir-me, pouco a pouco, a vida…
Chorai, vagas, por mim! dobrai finados
Bem como os sinos de risonha ermida!

No mausoléu augusto do Oceano
De outros dobres minh’alma não precisa;
Por súplica mortuária só deseja
O soluço do vento que desliza…

Dezembro de 1893

Análise do poema “Ao Mar”

O poema “Ao Mar” apresenta uma atmosfera melancólica e introspectiva, revelando a busca da poetisa por conforto e alívio em meio à sua solidão e tristeza. Através de uma conversa com o mar, a poetisa expressa sua esperança de que as ondas acolhedoras aliviem o frio que seu coração sente.

Na primeira estrofe, Auta de Souza descreve sua posição ao lado do mar, identificando-o como “bravio”, evidenciando a agitação e a força que as ondas possuem. Ela imagina que ao se unir ao mar, suas dores e tristezas seriam afogadas na imensidão azul, buscando alívio em sua vastidão.

Na segunda estrofe, a poetisa expressa o desejo de falecer junto ao mar, enquanto ainda é uma jovem com uma alma inocente e cheia de sonhos. Ela visualiza a morte como uma sepultura oferecida pelas espumas do mar, enquanto o céu se cobriria de estrelas refletidas em suas águas.

A terceira estrofe revela o desespero da poetisa, sentindo seu rápido declínio na vida, comparando-o a um soluço suave. Ela pede às ondas do mar, chamando-as de “vagas”, termo recorrente entre os românticos, que chorem por ela e toquem os sinos em seu funeral imaginário. Esse trecho reforça sua solidão e a sensação de isolamento.

Na última estrofe, Auta de Souza afirma que não precisa de um mausoléu grandioso no oceano, apenas deseja que o vento lhe ofereça um último suspiro, no lugar de súplicas mortuárias. Essa linha final indica uma aceitação resignada da morte e a busca por um conforto mais delicado e sutil.

Ao Mar, de Auta de Souza - Análise
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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