by Em “Ao Luar”, Auta de Souza nos presenteia com uma atmosfera melancólica e cheia de simbolismos, retratando a noite iluminada pela lua e as emoções despertadas por esse cenário. Mergulhe a seguir na profundidade do texto e desvende suas metáforas e sentidos ocultos.
Ao Luar, de Auta de Souza
A Maria Fausta e a Mercês Coelho
Astros celestes, docemente louros,
Giram no espaço, em luminoso bando;
Ouve-se ao longe um violão plangente
E, mais além, n’um soluçar dolente,
Canções serenas, ao luar voando.
Quanta tristeza pela noite clara!
Quanta saudade pelo azul boiando!
Cuida-se ouvir, n’um dolorido choro,
As preces tristes de um magoado coro
De almas penadas ao luar rezando.
O céu parece uma igrejinha antiga
Que a lua branca vai alumiando…
E essas estrelas, muito além dispersas,
São rosas brancas no Infinito imersas,
Monjas benditas, ao luar chorando.
Os pirilampos, pelas moitas tristes,
Voam, calados e sutis, brilhando…
Lembram descrenças, a bailar sombrias,
Ilusões mortas de esquecidos dias,
Almas de loucos, ao luar passando.
Flocos de nuvens pela Esfera adejam,
Barcos de neve pelo Azul formando…
Semelham preces que se vão da terra,
Almas mimosas, que este mundo encerra,
De criancinhas, ao luar sonhando.
Eles parecem também velas brancas
Soltas, à toa pelo mar vogando…
Leves e tênues, a correr imensas,
Folhas de lírios pelo Ar suspensas,
Aves saudosas, ao luar chorando.
Ai! quem me dera ser também criança!
Ai! quem me dera andar também voando!
Fazer dos astros um barquinho amado,
N’ele vagar por todo o Céu dourado,
As minhas dores ao luar cantando!
Angicos – Junho de 1896
Análise do poema “Ao Luar”
Ao lermos o poema “Ao Luar” de Auta de Souza, somos envolvidos por uma atmosfera noturna e melancólica, característica do movimento romântico ao qual a autora pertenceu. A poetisa nos apresenta um cenário lírico, onde os astros celestes, que giram no espaço, são descritos como docemente louros. Essa descrição pode ser interpretada como uma alusão à luz suave da lua, que ilumina a noite.
A presença da lua e das estrelas é recorrente no poema, simbolizando tanto a melancolia quanto a espiritualidade. A lua é comparada a uma igrejinha antiga, iluminando o céu, enquanto as estrelas são descritas como rosas brancas no Infinito imersas, representando monjas benditas em oração. Essas imagens sugerem uma conexão entre o divino e o noturno, entre a tristeza e a espiritualidade.
Outro elemento presente no poema são os pirilampos, que voam pela noite, lembrando descrenças e ilusões mortas. Essa imagem pode representar a transitoriedade das esperanças e sonhos da vida. As nuvens que adejam pela Esfera, formando barcos de neve, são comparadas a preces que se desprendem da terra, representando almas mimosas de criancinhas que sonham à luz do luar.
No último verso do poema, Auta de Souza expressa sua vontade de ser criança novamente, andar voando entre os astros e transformar suas dores em canções ao luar. Essa aspiração revela seu desejo de escapar das tristezas e encontrar conforto e alívio nas belezas celestiais.
