Ao Clarão da Lua, de Auta de Souza

O poema “Ao Clarão da Lua”, de Auta de Souza, traz elementos evocativos da natureza, como a lua, a nuvem, o lírio e a estrela, e expressa desejos e anseios através de metáforas sutis.

Ao Clarão da Lua

(A Meu Irmão Eloy)

O LÍRIO

Lá nas alturas, modesta e loura,
– Do Céu imenso na face nua –
A lua branca todo o Azul doura…

A NUVEM

Ah! se eu pudesse mudar-me em lua:

O PERFUME

E aquela estrela, tão pequenina
Que mal a gente consegue vê-la,
Como cintila, casta e divina!

A LUA

Ah! quem me dera ser uma estrela!

A NUVEM

O lírio branco, cheio de orvalho,
Invoca a lua no seu martírio
E doce e triste treme no galho…

A ESTRELA

Ah! quem me dera ser como o lírio!

O CÉU

Perfume doce bóia nos ares…
Virá nas asas de um vaga-lume?
Será da terra? Será dos mares?

O ORVALHO

Ah! quem me dera ser o perfume!

O POETA

Terno instrumento suspira ao longe
Numa cadência melodiosa…
Será na cela piedoso monge?

UMA CRIANÇA (SONHANDO)

Ah! quem me dera ser uma rosa!

A NOITE

O sonho vive dentro em meu seio,
Garrulo e meigo, doce e risonho,
Cheio de luzes, de aurora cheio…

O PERFUME

Ah! quem me dera ser como o Sonho!

A MADRUGADA (AO LONGE)

Ouvem? As aves já vêm cantando,
As estrelinhas tomam seu véu…
É tempo de irmos também chegando…

O CORAÇÃO

Ah! quem me dera subir ao Céu!

(Janeiro de 1897)

Análise do poema “Ao Clarão da Lua”

Neste poema, Auta de Souza apresenta um diálogo entre elementos da natureza, como o lírio, a nuvem, a lua, o perfume e outros. Cada elemento expressa um desejo intenso de se transformar em algo diferente, revelando um anseio profundo de ser como o outro.

A poetisa utiliza metáforas e linguagem poética para expressar os sentimentos desses elementos. A lua, por exemplo, deseja ser uma estrela, enquanto a nuvem deseja se transformar em lua. O lírio clama por ser como a lua e a estrela, enquanto o perfume anseia ser o próprio aroma que flutua pelo ar. O poeta e a criança também revelam desejos de serem outros elementos da natureza, como uma rosa, um monge ou o próprio sonho.

Essa troca de desejos entre os elementos ressalta a insatisfação presente em cada um deles e traz à tona a ideia de que muitas vezes almejamos ser algo que não somos, buscando uma outra forma de existência. A poetisa retrata essa angústia de forma sensível e melancólica.

Através da análise cuidadosa do poema, percebe-se que Auta de Souza explora a temática da busca por identidade e a insatisfação com a própria condição. Os elementos da natureza representam diversas facetas do ser humano, trazendo à tona questionamentos existenciais e uma reflexão sobre o desejo constante de fugir da realidade.

Pintura "Lovers and Sunflowers after Marc Chagall", de Trudi Doyle. Ilustrando o poema "Ao Clarão da Lua", de Auta de Souza.
Pintura "Lovers and Sunflowers after Marc Chagall", de Trudi Doyle. Ilustrando o poema "Ao Clarão da Lua", de Auta de Souza.
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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