“Cores”, de Auta de Souza, é um poema que reflete sobre as etapas da vida humana usando as metáforas da natureza e das aves para representar sentimentos e experiências universais.
Cores, de Auta de Souza
Enquanto a gente é criança
Tem no seio um doce ninho
Onde vive um passarinho
Formoso como a Esperança.
E ele canta noite e dia
Porque se chama: Alegria.
Depois… vai-se a Primavera…
É o tempo em que a gente cresce…
O riso se muda em prece,
A alma não canta: espera!
E ao ninho do Coração
Desce outra ave: a Ilusão.
Mas esta, como a Alegria,
Nos foge… E fica deserto
O coração, na agonia
Do inverno que já vem perto.
Nas ruínas da Mocidade
É quando pousa a saudade…
Nova Cruz – Setembro de 1897.
Análise do poema “Cores”
O poema “Cores” de Auta de Souza retrata com delicadeza as transições da vida, através de imagens líricas que todos podemos reconhecer.
O início reflete a infância, caracterizada pela inocência e pela vivacidade; um período da vida onde “um passarinho/ Formoso como a Esperança” vive dentro de nós. A esperança é simbolizada por um pássaro que canta sem cessar, toda essa alegria é enfatizada pelo canto constante do passarinho.
À medida que o poema avança, entramos na fase de transformação, de crescimento. “Depois… vai-se a Primavera…” sinaliza uma mudança no tom e no conteúdo temático. A primavera, muitas vezes associada à juventude e ao novo início, cede lugar a uma fase de maturação e introspecção, onde “o riso se muda em prece, / A alma não canta: espera!” Aqui, os símbolos se transformam.
A alegria da infância é substituída pela figura da “Ilusão”, outra ave que visita o ninho do coração, trazendo com ela um senso de desencanto, uma reconhecida qualidade melancólica que muitas vezes acompanha a idade adulta.
Por fim, a ilusão, como a alegria, “nos foge”, deixando para trás o coração deserto, em uma espécie de “inverno” emocional. Com a chegada dos últimos versos, “Nas ruínas da Mocidade / É quando pousa a saudade…”, sentimos a completude do ciclo de vida que Auta de Souza traça com palavras. O inverno representa o envelhecimento, onde a saudade faz seu ninho entre as “ruínas” do tempo que passou, evocando um sentimento comum a todos de refletir e muitas vezes lamentar o que foi vivido.
O poema, com sua linguagem clara e imagética forte, utiliza a representação natural das aves e das estações para simbolizar fases emocionais e de crescimento na vida de uma pessoa.