Angelina, de Auta de Souza (Análise)

O poema”Angelina”, de Auta de Souza, retrata a história de uma menina de apenas doze anos que sonhava com um futuro promissor, mas teve sua vida interrompida precocemente.

“Angelina”, de Auta de Souza

Ter doze anos somente
E nesta idade sofrer!
Sonhar um porvir ridente
E nesta aurora morrer!

Eis o que foi-te a existência,
Ó desditosa Angelina!
Doce lírio de inocência,
Pobre floco de neblina.

Como dois botões pequenos,
Duas flores orvalhadas,
Teus olhos dormem serenos,
Sob as pálpebras cerradas.

Voaste, meiga criança,
Tão feiticeira e mimosa,
Como um riso de esperança,
Como uma folha de rosa.

É triste morrer no fim
De uma manhã de esplendores…
A fronte ocultar, assim,
N’uma grinalda de flores.

E sentir, por entre a dor
Da derradeira agonia,
De mãe um beijo de amor
Roçar a fronte já fria…

Quando, n’um suspiro leve,
Est’alma que o corpo encerra,
– Como uma pomba de neve
A desprender-se da terra –

N’um vôo suave e franco,
Fugiu para o Céu de anil…
Vestiram-te, então, de branco,
Como uma noiva gentil.

No setíneo caixãozinho,
Mais puro que as alvoradas,
Depuseram teu corpinho,
Entre as cambraias nevadas.

Aí, no funéreo leito,
Toda coberta de rosas,
Tendo cruzadas ao peito
Duas mãozinhas formosas;

Pareces um anjo santo,
Envolto em gélido véu,
Transpondo azulado manto,
Como em procura do Céu.

Eu sigo-te o vôo alado,
Pela esfera diamantina,
Ó meu anjo imaculado,
Ó minha santa Angelina!

Brilhante como uma estrela,
criança e já numa cova!

Análise do poema “Angelina”

O poema “Angelina” de Auta de Souza retrata a história trágica de uma jovem de apenas doze anos que, cheia de sonhos e esperanças para o futuro, acaba falecendo antes mesmo de viver plenamente sua vida.

O poema nos traz uma profunda reflexão sobre a efemeridade da existência e a crueldade de ter sonhos interrompidos antes de se realizarem.

Ao longo do poema, a poetisa utiliza uma linguagem poética e sensível para descrever a personagem de Angelina. Ela retrata a menina como “doce lírio de inocência” e “pobre floco de neblina”, evidenciando a sua fragilidade e pureza. A imagem dos olhos fechados, “sob as pálpebras cerradas”, sugere a serenidade e quietude da morte, enquanto a comparação de Angelina com uma “folha de rosa” e um “riso de esperança” ressalta a sua juventude, beleza e potencial.

A poetisa também destaca a tristeza de morrer tão jovem, especialmente num momento de “manhã de esplendores”. A imagem de Angelina sendo ocultada pela “grinalda de flores” representa a morte como uma forma de esconder a beleza da vida.

O último trecho do poema enfatiza a esperança de que Angelina encontre paz e luminosidade em sua jornada após a morte. A poetisa a descreve como um “anjo santo” envolto em um “véu gélido”, em busca do céu. A personificação da sua alma como uma “pomba de neve” que se desprende da terra enfatiza sua transição para um plano espiritual.

Em suma, o poema “Angelina” de Auta de Souza nos leva a refletir sobre a brevidade da vida e a perplexidade diante da morte precoce. A poetisa utiliza uma linguagem poética para transmitir sentimentos profundos e transmitir a essência da personagem central. Através de suas palavras, somos convidados a contemplar o ciclo da vida e as incertezas que a cercam.

The Sisters of Mercy (1859), de Henriette Browne. Ilustrando o poema Angelina, de Auta de Souza.
The Sisters of Mercy (1859), de Henriette Browne. Ilustrando o poema Angelina, de Auta de Souza.
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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