Crepúsculo, de Auta de Souza – Análise

Auta de Souza foi considerada uma das maiores poetisas do Brasil no final do século XIX, sendo conhecida por sua poesia melancólica e sensível. “Crepúsculo” é um poema que demonstra sua habilidade em transmitir emoções e sentimentos, nesse caso tristeza, melancolia e saudade quando a noite se aproxima e sinos de uma igreja antiga começam a tocar.

Crepúsculo, de Auta de Souza

Há pelo Espaço um ciciar dolente
De prece, em torno da Igrejinha em ruína…

O Angelus soa. Vagarosamente
A noite desce, plácida e divina.
Ouço gemer meu coração doente
Chorando a tarde, a noiva peregrina.

Há pelo Espaço um ciciar dolente
De prece em torno da Igrejinha em ruína…
Pássaros voam compassadamente;
Treme no galho a rosa purpurina…

E eu sinto que a tristeza vem suspensa
Sobre as asas da noite erma e sombria…
E que, n’essa hora de saudade imensa,

Rindo e chorando desce ao coração:
Toda a doçura da melancolia,
Todo o conforto da recordação.

Análise do poema Crepúsculo

“Crepúsculo” é um poema que retrata o momento do crepúsculo, ou seja, o momento de claridade entre a noite e o nascer do sol, momento esse que carrega uma atmosfera de melancolia e saudade. A poetisa utiliza palavras como “dolente”, “tristeza” e “doçura da melancolia” para transmitir sentimentos profundos e nostálgicos.

O poema começa com a descrição de um “ciciar dolente”, um murmúrio, que remete ao som suave e triste de uma prece que circunda a “Igrejinha em ruína“. Essa imagem de uma igreja em estado de abandono reforça o aspecto melancólico do poema. O Angelus (toque especial dos sinos das igrejas às 6h00, 12h00 e 18h00) soa, anunciando a chegada da noite, que é descrita como “plácida e divina”, reforçando o aspecto tranquilo e sereno do crepúsculo.

A poetisa transmite sua própria emoção no poema, revelando que seu coração está doente e chorando a tarde, que é comparada a uma noiva peregrina. Essa imagem de uma noiva caminhando solitária intensifica a melancolia presente no texto.

No verso seguinte, Auta de Souza utiliza novamente a expressão “ciciar dolente“, reforçando a ideia de uma prece triste que envolve a igreja em ruínas. A presença dos pássaros voando compassadamente e da rosa purpurina tremendo no galho acrescenta uma imagem de serenidade e beleza nesse momento melancólico do crepúsculo.

No último terceto do poema, a poetisa enfatiza a tristeza que se aproxima sobre “as asas da noite erma e sombria”. Essa tristeza, no entanto, traz consigo a saudade imensa e a doçura da melancolia, oferecendo ao coração um conforto proporcionado pelas lembranças.

Crepúsculo, de Auta de Souza - Análise
Avatar photo

Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

You may also like...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

10 curiosidades sobre Dante e a Divina Comédia