Em “Ano Bom”, Auta de Souza retrata de forma delicada e sensível a esperança e o desejo de renovação que acompanham o início de um novo ano. Seus versos transmitem a ideia de que é possível resgatar a inocência e a pureza, mesmo diante das adversidades da vida.
Ano Bom, de Auta de Souza
Hoje começa o ano. Na alegria
De nívea pomba quando nasce a aurora,
Deixa, minh’alma, a tua fantasia
Subir, cantando, pelo espaço a fora…
Deixa-a sumir-se além, rompendo gazas,
Subindo em busca de ideais queridos:
Há de trazer nas pequeninas asas
Todo o perfume dos meus dias idos!
Há de trazer o sonho transparente
Da inocência feliz (quanto eu sonhava!)
E o eco virginal da voz dolente
Que o meu sono de arcanjo acalentava.
E o meu sorriso e as minhas esperanças,
Essas ingênuas ilusões de um dia,
Toda essa luz que as almas das crianças
Num raio de luar acaricia…
Que tudo venha sobre mim cantando
O salmo doce da recordação.
Qual se pousasse um luminoso bando
De passarinhos no meu coração..
Análise do poema “Ano Bom”
O poema “Ano Bom” de Auta de Souza é uma reflexão sobre o início de um novo ano e a esperança de renovação que isso traz. A poetisa utiliza elementos da natureza, como a aurora e a pomba, para transmitir a sensação de pureza e esperança que o começo de um período traz consigo.
No início do poema, Auta de Souza compara a alegria do início do ano com a alegria de uma pomba branca ao nascer da aurora. Essa imagem transmite a ideia de um momento de renovação e de paz que acompanha o início de algo novo.
A poetisa também expressa o desejo de que sua alma possa deixar-se levar pela fantasia e alcançar as metas e ideais desejados. Ela acredita que essa viagem imaginária pelo espaço trará de volta todo o perfume dos momentos passados, simbolizados pelas pequenas asas da fantasia.
No verso seguinte, Auta de Souza traz à tona o desejo de resgatar o sonho da inocência e a voz melodiosa que costumava acalentar o seu sono. Essa é uma referência à pureza e à ingenuidade da infância, quando sonhava com um mundo idealizado e tinha esperança nas possibilidades que a vida oferecia.
O poema encerra com a poetisa expressando o anseio de que tudo venha sobre ela cantando, trazendo consigo a doce recordação do passado. Ela compara esse sentimento à chegada de um bando de passarinhos luminosos pousando em seu coração, proporcionando paz e alegria.