O poema Vaso Chinês, de Alberto de Oliveira, não pretende ensinar ou provocar reflexões profundas sobre a vida, mas sim convidar o leitor a uma pausa contemplativa, onde a beleza se basta a si mesma.
Vaso Chinês, de Alberto de Oliveira
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?… de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;
Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
Análise do poema Vaso Chinês, de Alberto de Oliveira
O poema Vaso Chinês, de Alberto de Oliveira, é um ótimo exemplo da poesia parnasiana no Brasil. Ao observar um objeto exótico e elegante, como o vaso, o poeta constrói uma rica reflexão sobre a arte, o artista e a contemplação, utilizando a forma fixa do soneto, em versos decassílabos (10 sílabas) rimados, trabalhando com rigor a estrutura formal de um poema.
Logo nos primeiros versos, o eu lírico nos apresenta o vaso chinês, ao qual ele chama de “estranho mimo”, revelando sua fascinação por esse objeto. Ele menciona que o viu casualmente, como vemos diariamente uma infinidade de outros objetos aos quais não prestamos atenção. Esse “ver casualmente” contrasta com a importância que a peça adquire ao longo do poema.
O vaso é colocado sobre um “mármor luzidio”, entre objetos igualmente delicados — um leque e um bordado — um cenário refinado e esteticamente elaborado. Na estética do parnasianismo, a arte e os detalhes minuciosos são muito importantes.
A segunda estrofe aprofunda-se na descrição da peça e na relação do artista com sua criação. O “fino artista chinês”, mencionado de forma respeitosa, é caracterizado como alguém que colocou sua alma, seu “coração doentio”, na obra. A escolha das palavras “rubras flores”, “sutil lavrado”, “tinta ardente” e “calor sombrio” evoca uma aura de e delicadeza e ao mesmo tempo paixão intensa, tornando-se o vaso uma fonte de mistério e emoção. Esses elementos revelam como a arte pode ser uma extensão dos sentimentos do artista, sendo capaz de transpor suas emoções para o objeto criado.
Nos dois tercetos finais, o poema explora a figura de um mandarim, que também aparece retratado no vaso. Novamente, Alberto de Oliveira valoriza a maestria do artista, exclamando “Que arte em pintá-la!”. Essa exclamação representa bem o sentimento de admiração que perpassa todo o soneto. O eu lírico não só aprecia a habilidade técnica do artista, como também experimenta um “não sei quê”, uma emoção e um sentimento indefinível que surge ao contemplar a obra. O retrato do mandarim, com “olhos cortados à feição de amêndoa”, é uma imagem muito simóblica, típica da cultura chinesa, e causa no leitor uma sensação de exotismo e estranheza.
O poema, portanto, é uma celebração da arte pela arte. Não há preocupações com questões sociais ou morais, muito menos com a realidade cotidiana. O foco está na beleza do objeto, na habilidade do artista e na experiência de contemplação. Essa é uma abordagem bastante comum do Parnasianismo, movimento que valoriza o rigor estético, o preciosismo na descrição e a perfeição formal.