Pensamento de Amor, de Castro Alves

“Pensamento de Amor” é um poema do poeta baiano Castro Alves que exala o sentimento apaixonado de um eu-lírico pela sua amada. O poema é um ótimo exemplo do Romantismo Brasileiro, pois trabalha a ideia de uma figura feminina “divinizada”, a quem o poeta ama profundamente, mas que está distante e inacessível, causando-lhe dor e sofrimento.

A primeira estrofe começa com a inovação de uma “pálida madona”, já associando elementos de pureza, gentileza e divindade à amada. Essa divindade torna-se ainda mais aparente já no segundo verso, quando o poeta diz que ela é filha dos “cerros de Engadi”, sendo Engadi uma região montanhosa de Israel. Ou seja, sua origem é praticamente bíblica, de tão pura e divina, como também fica claro logo em seguida, com a referência à lira do Rei Davi.

Ao longo de todo o poema, o eu-lírico lamenta a distância desse amor e implora, em um monólogo, para que um dia ele possa ter o privilégio de beijar seus lábios, pois “amá-la é melhor do que ser um deus”.

Pensamento de Amor, de Castro Alves

Quero viver de esperança
Quero tremer e sentir!
Na tua trança cheirosa
Quero sonhar e dormir.
A. DE AZEVEDO.

Ó PÁLIDA madona de meus sonhos,
Doce filha dos cerros de Engadi!…
Vem inspirar os cantos do poeta,
Rosa branca da lira de Davi!

Todo o amor que em meu peito repousava,
Como o orvalho das noites ao relento,
A teu seio elevou-se, como as névoas,
Que se perdem no azul do firmamento.

Aqui… além… mais longe, em toda a parte,
Meu pensamento segue o passo teu.
Tu és a minha luz, — sou tua sombra,
Eu sou teu lago, — se tu és meu céu.

Lá, no teatro, ao som das harmonias,
Vendo-te a fronte altiva e peregrina…
Eu apertava o seio murmurando
— “Oh! mata-me de amor, mulher divina!”

À tarde, quando chegas à janela,
A trança solta, onde suspira o vento,
Minha alma te contempla de joelhos…
A teus pés vai gemer meu pensamento.

Inda ontem, à noite, no piano
Os dedos teus corriam no teclado;
Que, às carícias destas mãos formosas,
Gemia e suspirava apaixonado.

Depois cantaste… e a ária suspirosa
Veio n’alma acender-me mais desejos;
Dir-se-ia que essas notas eram doces
Como sussurro de amorosos beijos.

Oh! diz-me, diz-me, que ainda posso um dia
De teus lábios beber o mel dos céus;
Que eu te direi, mulher dos meus amores:
— Amar-te ainda é melhor do que ser Deus!

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Pintura "Piano Practice", de James McNeill Whistler. Ilustrando o poema "Pensamento de Amor", de Castro Alves.
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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