O poema “Ao Meu Bom Anjo” da poetisa brasileira Auta de Souza aborda temas como a busca pela transcendência, o desejo de escapar do sofrimento do mundo e a procura por refúgio e proteção.
Ao Meu Bom Anjo, de Auta de Souza
Dizem que a vida não é mais que um sonho,
Meu Deus, quero sonhar!
Empresta-me, anjo bom, as tuas asas,
Guarda no seio a minha fronte em brasas,
Ensina-me a rezar!
Vamos, vamos, além… foge comigo!
Procuremos bem longe um doce abrigo,
Na pátria dos arcanjos…
A vida é sonho e como um sonho passa…
Pois bem! vamos viver no Céu da graça,
Meu Deus, como dois anjos!
Quero fugir do mundo tenebroso,
Labirinto de dores…
Mensageiro divino, vem comigo,
Quero sonhar, viver, sorrir contigo,
No Éden há só flores!
Minh’alma, casta rola abandonada,
Desfalece sozinha pela estrada,
Não pode mais voar…
Empresta-lhe, anjo bom, as tuas asas:
Sinto estalar-me o coração em brasas,
Cansado de chorar.
Assim voando pelo espaço em fora
E vendo-te a meu lado a toda hora,
Quero – fugindo d’este mundo agreste,
Unida ao seio teu,
Embalada por ti, anjo celeste! –
Buscar meu ninho pelo azul do Céu.
Análise do poema “Ao Meu Bom Anjo”
Neste poema, o eu-lírico expressa o desejo de escapar das dificuldades e do sofrimento do mundo terreno, buscando abrigo e conforto no reino celestial e na presença de seu anjo de guarda. Ele inicia o poema mencionando a crença de que a vida é apenas um sonho e declara que quer sonhar. E pede ao seu anjo protetor que empreste suas asas e a ensine a rezar, indicando sua busca por uma conexão espiritual mais profunda.
Através de imagens de fuga e refúgio, Auta de Souza descreve a jornada junto ao seu anjo, buscando um abrigo longe deste mundo sombrio. Ela utiliza a simbologia dos anjos e dos arcanjos para retratar seu desejo de viver em um lugar de graça, onde só há flores. Essa representação do Paraíso remete à busca pela pureza, tranquilidade e esperança.
A poetisa também utiliza a metáfora do pássaro, comparando sua alma a uma rola (ave bastante parecida com a pomba) abandonada, incapaz de voar sozinha pela estrada. Ela pede ao anjo que empreste suas asas para que sua alma não se sinta mais desamparada e cansada de chorar.
No final do poema, Auta de Souza ressalta o desejo de voar junto ao seu anjo, buscando refúgio no céu. Ela anseia ser envolvida pelo anjo celeste e encontrar seu verdadeiro lar no azul do Céu.