A Morte de Helena, de Auta de Souza (Análise)

O poema “A Morte de Helena”, escrito pela poetisa Auta de Souza, aborda de forma poética e sensível a resistência e o medo da morte. Leia o poema na íntegra abaixo e confira em seguida uma análise completa!

A Morte de Helena, de Auta de Souza

Eu não quero morrer,” dizia a pobre Helena,
E a fronte, a soluçar, caiu no travesseiro…
(Ai! recordava assim a pálida açucena
Ou, do galho a pender, a flor do jasmineiro!)

“Não me deixem morrer assim na primavera:
Esconde-me no seio, ó minha mãe querida!
A morte como é triste! e o noivo que me espera
Há de chamar por mim… Quem restitue-me a vida?

E se pôs a chorar: mas, chegando o delírio,
Esqueceu-se da morte e começou a rir…
Pobre noiva do amor! Pobre folha de lírio!
Ela os olhos cerrou, como quem vai dormir.

Misérrima criança! Estava ali bem perto
A morte, a se abeirar do seu leito sagrado,
Para arrastar-lhe o corpo ao túmulo deserto,
Onde não brilha o Sol e nem o Riso amado.

E, quando despertou daquele doce encanto,
Conheceu que morria e, cheia de pavor,
Suplicou a Jesus, por seu martírio santo,
Que a deixasse na terra ao pé de seu amor.

“Mas, sei que parto sempre”, acrescentou chorando.
“Mostrou-se-me da crença o doloroso véu…
Minha mãe vem comigo, a noite vai chegando
E eu talvez possa errar o caminho do céu!”

E nessa mesma noite escura, tenebrosa,
Deixou a doce Helena a terra, pobre goivo!
Mas tinha para ungir-lhe a campa lutuosa
Uma prece de mãe e as lágrimas do noivo”

Análise do poema “A Morte de Helena”

“A Morte de Helena”, de Auta de Souza, apresenta uma atmosfera melancólica e angustiante, explorando a resistência da personagem diante da morte iminente.

Através dos versos, percebemos a intensa luta de Helena em fugir do destino inevitável, expressa na frase “Eu não quero morrer”. A poetisa utiliza o contraste entre a vida e a morte para transmitir essa sensação de dor e desamparo que Helena enfrenta.

No poema, a imagem da pálida açucena e da flor do jasmineiro pendente são usadas como metáforas para a fragilidade da vida. A presença da primavera traz a ideia de renovação e renascimento, contrastando com a iminência da morte.

O pedido de Helena para que sua mãe a esconda no seio e a aflição pela tristeza que a morte lhe causa demonstram o medo da perda e separação.

A personagem vai do choro ao riso, do desespero à resignação, representando as diferentes fases emocionais diante da morte. Helena, fechando os olhos como quem vai dormir, indica a aceitação do inevitável. A morte é retratada como uma presença próxima, prestes a carregar o corpo de Helena para um túmulo deserto, onde não há luz solar nem alegria.

Quando Helena desperta e percebe que está diante da morte, ela suplica a Jesus para ficar na Terra ao lado de seu amor. Demonstrando sua crença religiosa, ela revela o medo de se perder no caminho para o céu, acolhendo a dor de sua partida.

O poema encerra com a morte de Helena, deixando uma campa lutuosa ungida pelas preces de sua mãe e pelas lágrimas de seu noivo. Essa imagem final intensifica a tristeza e a saudade deixadas pela partida de Helena.

Pintura "Ophelia", de John Everett Millais. Ilustrando o poema A Morte de Helena, de Auta de Souza
Pintura "Ophelia", de John Everett Millais. Ilustrando o poema A Morte de Helena, de Auta de Souza
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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