5 poemas de superação e resiliência para o Setembro Amarelo

Setembro Amarelo é uma campanha anual de conscientização sobre a prevenção do suicídio, e traz à tona reflexões sobre a importância de cuidar da saúde mental. A poesia, com sua capacidade de tocar diretamente os sentimentos, pode ser uma forma poderosa de motivar, inspirar e trazer esperança!

Abaixo, selecionei cinco poemas que abordam temas como esperança, recomeços e a importância de seguir em frente, perfeitos para esse momento de reflexão. Compartilhe com amigos e entes queridos neste mês tão importante do ano!

1. Ode ao Dia Feliz, de Pablo Neruda

DESTA vez deixa-me
ser feliz,
nada aconteceu a ninguém,
não estou em parte alguma,
acontece somente
que sou feliz
pelos quatro lados
do coração, andando,
dormindo ou escrevendo.
O que vou fazer, sou
feliz.
Sou mais inumerável
que o pasto
nas pradarias,
sinto a pele como uma árvore rugosa
e a água abaixo,
os pássaros acima,
o mar como um anel
em minha cintura,
feita de pão e pedra, a terra
o ar canta como um violão.

Tu ao meu lado na areia,
és areia,
tu cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma,
canto e areia,
o mundo
é hoje tua boca,
deixa-me
em tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque respiro
e porque tu respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e seu frescor.

Hoje deixa-me
a mim só
ser feliz,
com todos ou sem todos,
ser feliz
com o pasto
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com tua boca,
ser feliz.

Neste poema, Neruda expressa uma felicidade pura e despretensiosa, que surge sem um motivo específico, mas simplesmente por existir, respirar e compartilhar a vida com a pessoa amada. A simplicidade do cenário — a areia, o ar, o mar — se funde com o corpo e os sentimentos, como se a felicidade fosse uma extensão natural do mundo.

A repetição da frase “ser feliz” ao longo do poema reforça esse estado de plenitude, enquanto a conexão entre o eu lírico e a natureza cria uma atmosfera de harmonia e celebração. Neruda mostra que a felicidade pode ser encontrada nas coisas mais simples, como o toque ou o respirar, e que ela é uma escolha, uma atitude diante da vida.

2. Cântico VI, de Cecília Meireles

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Cecília Meireles nos oferece uma reflexão profunda sobre a transitoriedade da vida e como, ao invés de temer o fim, devemos abraçar os ciclos de renovação, que são frequentes ao longo da vida. A ideia de que “acabas todo o dia” é reconfortante: mesmo nos momentos de tristeza ou dúvida, existe uma renovação constante. A fase ruim vai passar e abrirá caminho para novas experiências.

Ao perder o medo de acabar, encontramos uma forma poderosa de eternidade, e consequentemente levamos uma vida mais plena.

3. Recomece, de Bráulio Bessa

Quando a vida bater forte
e sua alma sangrar,
quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar…
É hora do recomeço.
Recomece a LUTAR.

Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar…
É hora do recomeço.
Recomece a ACREDITAR.

Quando a estrada for longa
e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar…
É hora do recomeço.
Recomece a CAMINHAR.

Quando o mal for evidente
e o amor se ocultar,
quando o peito for vazio,
quando o abraço faltar…
É hora do recomeço.
Recomece a AMAR.

Quando você cair
e ninguém lhe aparar,
quando a força do que é ruim
conseguir lhe derrubar…
É hora do recomeço.
Recomece a LEVANTAR.

Quando a falta de esperança
decidir lhe açoitar,
se tudo que for real
for difícil suportar…
É hora do recomeço.
Recomece a SONHAR.

Enfim,

É preciso de um final
pra poder recomeçar,
como é preciso cair
pra poder se levantar.
Nem sempre engatar a ré
significa voltar.

Remarque aquele encontro,
reconquiste um amor,
reúna quem lhe quer bem,
reconforte um sofredor,
reanime quem tá triste
e reaprenda na dor.

Recomece, se refaça,
relembre o que foi bom,
reconstrua cada sonho,
redescubra algum dom,
reaprenda quando errar,
rebole quando dançar,
e se um dia, lá na frente,
a vida der uma ré,
recupere sua fé
e RECOMECE novamente.

Bráulio Bessa escreve um poema que funciona como um verdadeiro hino de superação: ele sugere que, mesmo diante das maiores adversidades, sempre há uma chance de recomeçar. A repetição da palavra “recomece” ao longo do texto fortalece a ideia de que não importa quantas vezes caímos, o importante é sempre nos levantarmos e seguir adiante.

A simplicidade e a força da mensagem são ideais para o Setembro Amarelo, reforçando que a vida é feita de recomeços, e que, por mais difíceis que sejam os momentos, há sempre um novo caminho a seguir.

4. Sonhe, de Clarice Lispector

Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

Clarice Lispector nos lembra neste poema da importância de sonhar e de buscar a felicidade, mesmo em meio às dificuldades. Algo que infelizmente acabamos nos esquecendo com a correria da vida.

O poema enfatiza que a vida é única, até onde sabemos, e que cada um de nós deve buscar ser o que realmente deseja, apesar dos obstáculos. A autora também fala da importância da tristeza e das dificuldades, não como algo a ser temido, mas como experiências que tornam a vida mais rica e significativa.

Para o Setembro Amarelo, a mensagem é clara: há sempre motivos para sonhar e seguir em frente, mesmo nos momentos mais desafiadores.

5. Segue o teu destino, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Por fim, o heterônimo de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, nos convida a uma vida simples e serena. “Segue o teu destino” traz uma mensagem de aceitação da vida como ela é, praticamente estoica, sem questionamentos excessivos ou tentativas de controlar o incontrolável.

Ao comparar a vida aos deuses, que “não se pensam”, o poema sugere que, ao viver com mais leveza, encontramos paz. Em tempos de inquietação, como no Setembro Amarelo, esse poema nos lembra de deixar a dor para trás, focando no que podemos controlar e aceitando o que foge ao nosso alcance.

Pintura "the promenade on the cliff", de Monet.
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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