Em “Adoração dos Reis“, Auta de Souza demonstra uma profunda devoção religiosa e mergulha na espiritualidade cristã ao retratar um dos eventos mais importantes do cristianismo. Através da análise do poema, é possível perceber as camadas de significado presentes na obra, que evocam reflexões sobre fé, adoração, sofrimento e humildade.
Adoração dos Reis, de Auta de Souza
Jesus sorri. Que ternura,
Que doce favo de luz
Vejo brilhar na candura
De seus dois olhos azuis!
Chegam os Magos. De joelho,
Cheios de unção e de amor,
Beijam o pesinho vermelho
Do pequenino Senhor.
Trazem-lhe mesmo um tesouro
Lembrando glória e tormento:
Caçoulas de incenso e ouro
É a mirra do sofrimento.
Ó Reis do Grande Oriente,
Por que lembrastes, então,
Á mãe do louro inocente
A dor sem fim da Paixão?
Não vedes que a Virgem chora
Olhando a mirra cruel?
É que ela se lembra agora
Da esponja embebida em fel.
Talvez não vísseis o lindo
Bando gentil de pastores
Que o rodearam sorrindo,
Mas só lhe trouxeram flores!
Análise do poema “Adoração dos Reis”
“Adoração dos Reis” retrata um momento significativo na história cristã, em que os Magos visitam o recém-nascido Jesus. O poema é marcado por um sentimento de admiração e respeito diante da presença divina, representada pelos olhos azuis brilhantes de Jesus. A poetisa Auta de Souza demonstra um profundo encantamento com a figura do Menino Jesus e com o ato de adoração dos Reis Magos.
A linguagem utilizada por Auta de Souza é delicada e suave, transmitindo a ternura do momento descrito no poema. Os versos destacam a importância simbólica dos presentes oferecidos pelos Magos: incenso, ouro e mirra. Enquanto o incenso remete à divindade e à adoração, o ouro representa a realeza de Jesus. Já a mirra simboliza o sofrimento e a dor que o Menino Jesus enfrentará ao longo de sua vida.
A poetisa faz um questionamento em relação aos Reis Magos, indagando por que eles trouxeram à Virgem Maria a lembrança da futura Paixão de Cristo. Ao mencionar a mirra, Auta de Souza nos leva a refletir sobre o mistério da encarnação de Deus e a compreender que, desde o seu nascimento, Jesus já tinha consciência de sua missão e do sofrimento que enfrentaria pelo bem da humanidade.
A última estrofe do poema ressalta uma diferença entre a visita dos Magos e a visita dos pastores. Enquanto os Magos trouxeram tesouros valiosos, os pastores ofereceram apenas flores. Essa distinção simboliza a humildade e a simplicidade do nascimento de Cristo, mostrando que o verdadeiro valor está na pureza de coração e na devoção sincera, não na riqueza material.