Marcante na história da literatura brasileira, a Segunda Geração Modernista, que aconteceu entre as décadas de 1930 e 1945, refletiu as tensões de uma época de crise global e significativas transformações no Brasil. Os poetas deste período se utilizaram do cotidiano e do introspectivo para exprimir as complexas realidades brasileiras.
Sobre a Segunda Geração Modernista
Os anos de 1930 a 1945 delimitam a era da Segunda Geração Modernista, também denominada ‘Geração de 30’ ou ‘Fase de Consolidação’. Os preceitos modernistas inaugurados em 1922 são reafirmados, tendo como contexto a Era Vargas, a crise econômica de 1929, e o advento de regimes totalitários que resultaram na Segunda Guerra Mundial.
Caracterizada pela adoção do verso livre e a retomada de formas tradicionais, a poesia da Segunda Geração Modernista apresentou um leque temático variado, do cotidiano ao espiritual.
Influências estrangeiras foram absorvidas, mas sempre em diálogo com a cultura nacional. Autores como Carlos Drummond de Andrade, com seu “Alguma Poesia”, e poetas da estatura de Mário Quintana, Murilo Mendes, Cecília Meireles e Vinicius de Moraes foram expoentes desse período.
A temática explorada pela poesia da 2ª Geração Modernista
A principal temática da poesia da 2ª geração do Modernismo foram os problemas sociais e históricos. A poesia desse momento histórico não hesitou em lidar com temas dolorosos como desemprego, fome e miséria. Além disso, também falavam muito de inquietações religiosas e espirituais.
Os poetas abordaram aspectos regionais e nacionais, sem ignorar a cultura global, inspirando-se também em movimentos internacionais como o Surrealismo e áreas em voga como a psicanálise.
Exemplo de poema: Congresso Internacional do Medo, de Drummond
Um bom exemplo de poema que representa a 2ª geração modernista é “Congresso Internacional do Medo”, que aborda questões relacionadas a problemas sociais. Nele, o destaque é à ausência de amor no mundo e ao papel do medo, uma presença constante em nossas vidas.
Congresso Internacional do Medo, de Carlos Drummond de Andrade
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
O poema inicia com um adiamento do canto ao amor, sugerindo um mundo em que o amor está oculto, forçado a se esconder. A substituição do amor pelo medo é um profundo comentário sobre o estado da sociedade, onde medos coletivos suprimem a expressão de afeto. A esterilização dos abraços é uma metáfora potente sobre como o medo nos impede de estabelecer conexões humanas autênticas.
O repúdio ao ódio, negando-lhe até mesmo a existência, realça o medo como emoção primordial. Drummond o personifica como “nosso pai e nosso companheiro”, sugerindo que o medo é uma presença constante em nossas vidas, uma influência que nos guia e molda desde o nascimento.
O “medo grande” ecoa por paisagens diversas – sertões, mares, desertos – retratando o medo como uma força onipresente. Destaca-se igualmente o medo em diversos papéis sociais – soldados, mães, igrejas – e sob diferentes sistemas políticos, numa universalidade que atravessa opostos ideológicos, como ditadores e democratas. Em todos os recantos, o medo é um denominador comum.
A morte é o clímax do medo, ultrapassando a experiência terrena e estendendo-se até mesmo após ela. A conclusão do poema, com a morte devido ao medo seguida pelo crescimento de flores amarelas (comumente ligadas à covardia) sobre os túmulos, evidencia um ciclo perturbador: vivemos e morremos no medo, e o legado que deixamos é tingido por ele.