Nas últimas décadas do século XIX, deu-se origem a um movimento artístico marcado por uma atmosfera de mistério e introspecção: o Simbolismo. Contrapondo-se ao realismo e ao naturalismo, o Simbolismo na literatura refletiu a sensibilidade de uma geração que se encontrava desiludida com o rumo do progresso científico e tecnológico do capitalismo.
Essência do Simbolismo
- Linguagem subjetiva e simbólica marcando o fim do século XIX.
- Expressão da desilusão com o progresso e busca por significados transcendentes.
- Uso de recursos estilísticos para sugerir emoções e ideias subjetivas.
O Simbolismo na Literatura
O Simbolismo é caracterizado por uma poesia rica em subjetividade, onde os significados estão “escondidos” e a imaginação do leitor é essencial.
Surgindo como uma resposta ao positivismo e à racionalidade da época, o movimento convida a explorações mais profundas da mente e da experiência humana, traçando um diálogo entre a luz e a sombra.
Características do Simbolismo
- Pessimismo e desilusão: Uma visão crítica da existência e do desenvolvimento industrial, refletindo o desencanto com o materialismo.
- Linguagem sugestiva: Prefere-se insinuar e aludir a significados subjetivos e profundos por meio de uma linguagem simbólica.
- Figuras de linguagem: A utilização de sinestesia, aliterações e assonâncias colabora para a sonoridade e o ritmo que complementa o sentido dos poemas.
- Metáforas: Peças-chave no Simbolismo, as metáforas são essenciais na criação de imagens poéticas ricas em significado.
- Misticismo e transcendência: A presença do sagrado e do transcendental oferece uma resposta às inquietações mundanas.
Exemplos de obras simbolistas
Charles Baudelaire é muitas vezes visto como um precursor do Simbolismo com sua obra “As flores do mal” (“Les Fleurs du mal”), a qual se destaca pela beleza encontrada na decadência e na tristeza.
Autores como Rimbaud, Camilo Pessanha e Cruz e Souza também são notáveis no cânone simbolista, explorando as profundezas psíquicas e emocionais da condição humana.
Exemplo: O Albatroz, de Charles Baudelaire
Para passar o tempo, homens das equipagens
Pegam o albatroz, uma vasta ave do mar,
Que segue, companheiro indolente de viagens,
O navio no abismo amargo a deslizar.
Mal tenham eles posto uns tantos no convés,
Que esses reis do azul, sem destreza e envergonhados,
Baixam as grandes asas brancas até o rés
Do chão, como, a seu lado, remos arrastados.
Esse viajante alado, assim fraco e sem jeito,
Antes belo, como é risível, incongruente!
Com um cachimbo cutucam o seu bico; feito
Um manco o imitam, pois que não voa, o doente!
O Poeta lembra muito o príncipe dos céus,
Que enfrenta a tempestade e olha o arqueiro com esgar:
Quando em terra exilado, em meio aos escarcéus,
As asas de gigante impedem-no de andar.
Em “O Albatroz”, Baudelaire faz uma comparação entre o albatroz, grandiosa ave marinha, e o poeta, ambos elevados em seus respectivos reinos e desajeitados ao serem despojados de sua liberdade.
O albatroz é capturado e trazido ao convés, sua envergadura que antes garantia seu domínio do ar, aqui, apenas lhe serve de empecilho e motivo de escárnio. Talvez nenhum outro poema do seu volume “As Flores do Mal” capture tão incisivamente essa dinâmica de exílio e deslocamento vivida pelo poeta.
Na estrutura formal do poema, Baudelaire utiliza-se de quatro quartetos com rima alternada, criando um ritmo que contrasta com a desordem emocional do conteúdo. A natureza fluida do mar e a vastidão do céu oferecem um pano de fundo de liberdade ilimitada, que se choca com a realidade do albatroz aprisionado no convés, uma espécie de antítese visual e espacial à sua verdadeira essência.
O constrangimento do albatroz é nítido, uma vez que os marinheiros, incapazes de compreender a majestade da ave em seus céus nativos, zombam de sua inabilidade em terra. Esta imagem serve como metáfora para a sociedade que ridiculariza os poetas, críticos do status quo, incapaz de valorizar ou entender a profundidade de suas visões e a vastidão de suas aspirações que, como as asas do albatroz, são demasiado grandes para os “convés” mundanos da existência comum.
A conclusão oferece uma mordaz crítica àqueles que aterram o poeta, símbolo de beleza e percepção elevadas, em um mundo que não está preparado para elevar-se à altura de suas ideias. A referência às asas de “gigante” reitera o tema recorrente do isolamento e desajeitamento do poeta, que vê-se preso e limitado por uma realidade demasiado trivial e não-conformista para compartilhar na sua liberdade de voar além do convencional.