Fazer com que crianças tenham contato com poemas infantis desde pequenas é muito importante. Isso porque o hábito de ler poesia a ajuda a desenvolver a linguagem, estimula a criatividade e imaginação, aprimora a leitura e escrita, além de melhorar a sensibilidade estética, o pensamento crítico, a empatia e também a capacidade de memória.
Crianças muito pequenas podem não se interessar por contos, fábulas e crônicas, mas podem se interessar muito pelos poemas infantis pela presença de rimas e temas cativantes.
Na língua portuguesa, temos vários poetas que se debruçaram sobre o universo infantil ao escreverem suas obras. É o caso, por exemplo, de Cecília Meireles e Vinícius de Moraes, que deixaram inúmeros poemas infantis que passaram a fazer parte do imaginário popular.
A seguir, você vai conhecer 20 poemas infantis, de autores brasileiros variados, que são os melhores para começar a despertar o interesse das crianças pela leitura.
1. A Bailarina, de Cecília Meireles 💃
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
2. O Menino Azul, de Cecília Meireles 👦
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.
O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.
(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
3. A Casa, de Vinícius de Moraes 🏠
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque a casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.
4. Ou Isto ou Aquilo, de Cecília Meireles 🤔
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
5. Mãe, de Sérgio Capparelli 👩👦
De patins, de bicicleta
de carro, moto, avião
nas asas da borboleta
e nos olhos do gavião
de barco, de velocípedes
a cavalo num trovão
nas cores do arco-íris
no rugido de um leão
na graça de um golfinho
e no germinar do grão
teu nome eu trago, mãe,
na palma da minha mão.
6. Lista de Brincos, de Ana Maria Machado 📋
Brinco de listas
Brinco de argola
Brinco de bolinha
Brinco de bola
Brinco de ouro
Brinco de flor
Brinco de tudo que é cor
Brinco de lata
Brinco de prata
Brinco de pirata
Brinco de cigana
Brinco de baiana
Brinco fantasia
Faísca de dia
Brinco a brilhar
Faísca ao luar
Brinco pequenino
Brinco grandalhão
Brinco pendurado
Brinco cai no chão
Brinco de listas
Listas de brinco
Mas não uso brinco
E tenho quatro ou cinco
7. Lista de Chamada, de Ana Maria Machado 📋
Cada nome em seu lugar
A começar pelo A
Antônio, Ana e Abel
Mas não encontro a Bebel
que está no l de Isabel
E nem adianta chamar
E não sei por que o Zé
Nunca está na letra Z
Vai no Jota se esconder
Disfarçado de José
Mas o nome que eu mais quero
Nunca está no quadrado e onde
Mora lá no meu segredo
Só eu sei onde se esconde
8. Trem de Ferro, de Manuel Bandeira 🚂
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô…
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô…
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô…
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Oô…
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricuri
Oô…
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente…
9. Poeminha do Contra, de Mário Quintana 🐦
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
10. A Lua foi ao Cinema, de Paulo Leminski 🌝🎥
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
– Amanheça, por favor!
11. Pessoas são diferentes, de Ruth Rocha 👨👩👦👦
São duas crianças lindas
Mas são muito diferentes!
Uma é toda desdentada,
A outra é cheia de dentes…
Uma anda descabelada,
A outra é cheia de pentes!
Uma delas usa óculos,
E a outra só usa lentes.
Uma gosta de gelados,
A outra gosta de quentes.
Uma tem cabelos longos,
A outra corta eles rentes.
Não queira que sejam iguais,
Aliás, nem mesmo tentes!
São duas crianças lindas,
Mas são muito diferentes!
12. Pontinho de Vista, de Pedro Bandeira 🤏
Eu sou pequeno, me dizem,
e eu fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.
Mas, se formiga falasse
e me visse lá do chão,
ia dizer, com certeza:
— Minha nossa, que grandão!”
13. Peixe-serra de Tubarão-martelo, de Lalau 🏖
— Vamos construir um castelo?
Perguntou um tubarão-martelo.
— Só se for o mais lindo da terra!
Respondeu o peixe-serra.
— Eu martelo, você serra!
— Eu serro, você martela!
— Eu martelo, você serra!
— Eu serro, você martela!
E assim ficou pronto
Mm castelo muito legal
Enfeitado com algas
E pintada de coral
14. O Direito das Crianças, de Ruth Rocha 🧒
Toda criança no mundo
Deve ser bem protegida
Contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida.
Criança tem que ter nome
Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome
Ter segurança e estudar.
Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os direitos das crianças
Todos têm de respeitar.
Tem direito à atenção
Direito de não ter medos
Direito a livros e a pão
Direito de ter brinquedos.
Mas criança também tem
O direito de sorrir.
Correr na beira do mar,
Ter lápis de colorir…
Ver uma estrela cadente,
Filme que tenha robô,
Ganhar um lindo presente,
Ouvir histórias do avô.
Descer do escorregador,
Fazer bolha de sabão,
Sorvete, se faz calor,
Brincar de adivinhação.
Morango com chantilly,
Ver mágico de cartola,
O canto do bem-te-vi,
Bola, bola, bola, bola!
Lamber fundo da panela
Ser tratada com afeição
Ser alegre e tagarela
Poder também dizer não!
Carrinho, jogos, bonecas,
Montar um jogo de armar,
Amarelinha, petecas,
E uma corda de pular.
15. Guarda-chuvas, de Rosana Rios 🌂
Tenho quatro guarda-chuvas
todos os quatro com defeito;
Um emperra quando abre,
outro não fecha direito.
Um deles vira ao contrário
seu eu abro sem ter cuidado.
Outro, então, solta as varetas
e fica todo amassado.
O quarto é bem pequenino,
pra carregar por aí;
Porém, toda vez que chove,
eu descubro que esqueci…
Por isso, não falha nunca:
se começa a trovejar,
nenhum dos quatro me vale –
eu sei que vou me molhar.
Quem me dera um guarda-chuva
pequeno como uma luva
Que abrisse sem emperrar
ao ver a chuva chegar!
Tenho quatro guarda-chuvas
que não me servem de nada;
Quando chove de repente,
acabo toda encharcada.
E que fria cai a água
sobre a pele ressecada!
Ai…
16. Convite, de José Paulo Paes 💌
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
17. A Canção dos Tamanquinhos, de Cecília Meireles 👠
Troc… troc… troc… troc…
ligeirinhos, ligeirinhos,
troc… troc… troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…
Madrugada. Troc… troc…
pelas portas dos vizinhos
vão batendo, Troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…
Chove. Troc… troc… troc…
no silêncio dos caminhos
alagados, troc… troc…
vão cantando os tamanquinhos…
E até mesmo, troc… troc…
os que têm sedas e arminhos,
sonham, troc… troc… troc…
com seu par de tamanquinhos…
18. Meus oito anos, de Casimiro de Abreu 🧒
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!
19. Chegaram as férias, de Ruth Rocha e Hélio Ziskind 😃
Chegaram as férias
que bom que vai ser!
Eu vou passear
pular e correr!
Eu vou dormir tarde,
vou brincar lá fora…
Ver televisão
até fora de hora.
Vou ler o que eu quero,
de noite e de dia…
Brincar com o cachorro,
ou fazer folia!
Chaa…
charará rá rá…
charará rá rá…rá rá…
Com todos os amigos
vou ficar de bem,
Só volto pra escola
no ano que vem!
20. A Foca, de Vinícius de Moraes 🧒
Quer ver a foca
Ficar feliz?
É pôr uma bola
No seu nariz.
Quer ver a foca
Bater palminha?
É dar a ela
Uma sardinha.
Quer ver a foca
Fazer uma briga?
É espetar ela
Bem na barriga!
Como fazer as crianças se interessarem por poemas infantis?
Não sabe por onde começar para fazer com que seus filhos, netos, sobrinhos ou alunos se interessem por poemas infantis? Pois separamos abaixo algumas dicas fundamentais:
- Leia em voz alta os poemas infantis para a criança, fazendo com que ela preste a atenção na sonoridade das palavras, nas rimas, na mensagem transmitida etc. Caso ela não conheça alguma palavra, explique o significado para ela e tire quaisquer outras dúvidas que ela possa ter.
- Reserve um momento do dia para a leitura de poemas infantis. Por exemplo: sempre antes de dormir, ou depois do almoço, antes de ela ir para a escola à tarde. É importante manter uma rotina constante de leitura.
- Escolha poemas adequados à idade. Não adianta querer que ela já comece lendo William Shakespeare. E é justamente para isso que os poemas que destacamos acima servem!
- Leve a criança a bibliotecas, livrarias e eventos públicos de incentivo à cultura, como peças de teatro, saraus (adequados à idade), apresentações musicais etc. Nas livrarias, deixe que ela mesma escolha os livros que mais a interessar. Apenas certifique-se de que são adequados a ela; caso não sejam, sugira algumas alternativas.
- Realize outras atividades que envolvam poesia: como a confecção de cartões ou presentes com versinhos, concursos de poesia entre os amigos da criança etc.
- Incentive a criança a escrever seus próprios poemas infantis. Sugira alguns assuntos do dia a dia dela que possam se tornar poemas, como a ida a algum lugar que ela gosta, seus animais de estimação, seus brinquedos etc.
- Associe a prática de leitura a atividades que ela realiza durante o dia, como a hora do chá da tarde ou a preparação para dormir. Dessa forma, ela fará uma conexão entre as duas coisas, e ler acabará se tornando uma atividade prazerosa.