Em “O Tonel das Danaides”, poema de Castro Alves, vemos uma clara referência à mitologia grega. Num dos mitos, as Danaides, filhas de Dânao (filho do mítico rei do Egito “Belo” e, segundo a mitologia, pai de cinquenta filhas), foram condenadas a encher um tonel sem fundo após matarem seus maridos.
No poema, o eu-lírico, apaixonado por uma mulher de cabelos negros, faz de tudo para conquistar seu amor, comparando o seu esforço ao de figuras também mitológicas, como Doge de Veneza, Hércules e o filho pródigo. Porém, apesar dos esforços, ele percebe que foi tudo em vão — assim como o ato das Danaides de encher o tonel, já que ele não tem fundo e não retém nenhuma água. Por isso, ele compara o coração da mulher a quem ele ama ao tonel destas figuras mitológicas.
O Tonel das Danaides, de Castro Alves
Diálogo
Na torrente caudal de seus cabelos negros
Alegre eu embarquei da vida a rubra flor.
— Poeta! Eras o Doge o anel lançando às ondas…
Ao fundo de um abismo… arremessaste o amor.
Depois minh’alma ao som da Lira de cem vozes
Sublimes fantasias em notas desfolhou.
— Cleópatra também pra erguer no Tibre a espuma
As pérolas do colar nas vagas desfiou!
Depois fiz de meu verso a púrpura escarlate
Por onde ela pisasse em marcha triunfal!
— Como Hércules, volveste aos pés da insana Onfália
O fuso feminil de uma paixão fatal.
Um dia ela me disse: “Eu sou uma exilada!”
Ergui-me… e abandonei meu lar e meu país…
— Assim o filho pródigo atira as vestes quentes
E treme no caminho aos pés da meretriz.
E quando debrucei-me à beira daquela alma
Pra ver toda riqueza e afetos que lhe dei!…
— Ai! nada mais achaste! o abismo os devorara…
O pego se esqueceu da dádiva do Rei!
Na gruta do chacal ao menos restam ossos…
Mas tudo sepultou-me aquele amor cruel!
— Poeta! O coração da fria Messalina
É das fatais Danaides o pérfido Tonel!