O que “Lolita” de Nabokov tem de tão especial, apesar das polêmicas?

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“Lolita”, a obra-prima do escritor russo-americano Vladimir Nabokov, explora temas controversos e complexos, girando em torno do personagem Humbert Humbert, um professor de literatura francesa que vive uma obsessão pela jovem Dolores Haze, apelidada por ele de “Lolita”, de quem se torna padrasto.

Publicado inicialmente em Paris, em 1955, por temor à censura nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, o romance explora a vida de Humbert e sua fixação por Lolita, iniciando com a sua morte e retrocedendo aos seus desejo perturbadores e ações repreensíveis.

A obra é enfatizada pela complexidade psicológica de Humbert e suas descrições poéticas e perturbadoras da realidade.

As polêmicas envolvendo a obra

Desde sua publicação, “Lolita” tem sido objeto de debates fervorosos e censura, sendo às vezes rotulado como um “romance erótico”, e às vezes como uma obra de crítica social.

Muitos críticos enfatizam que Nabokov, longe de glorificar o comportamento de Humbert, apresenta um narrador no qual a gente simplesmente não consegue confiar, cujos pensamentos expõem uma crítica mordaz às interpretações complacentes de amor e moralidade.

O abuso acontece através do amor parental, e a crítica de Nabokov infelizmente segue atual, já que familiares e conhecidos são responsáveis por 68% dos casos de violência sexual contra crianças de 0 a 9 anos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

O que "Lolita" de Nabokov tem de tão especial, apesar das polêmicas?

Essa abordagem ambígua (Nabokov glorifica ou não o comportamento de Humbert?) gerou controvérsias sobre a intenção do autor e as implicações éticas de escrever sobre um tema literário tão problemático.

A cena mais polêmica, em que Lolita acaba esticando suas pernas, de forma inconsciente e não-intencional, sobre o colo excitado de Humbert, é o ponto alto do erotismo da obra, erotismo esse que se limita aos treze primeiros capítulos. O restante da obra afasta-se desse lado e assume mais o tom de crítica social.

O que a obra tem de tão especial no fim das contas?

O que torna o romance “Lolita” especial, apesar das controvérsias, é a capacidade de Nabokov de criar uma narrativa de profunda complexidade emocional e psicológica.

Nabokov domina a prosa, e com ela desafia de maneira incisiva a empatia do leitor, provocando um dilema moral inquietante. Uma especialidade da literatura russa (Crime e Castigo de Dostoiévski que o diga), e um dos tipos de livro que mais causam repercussão.

Por meio da perspectiva tortuosa de Humbert, Nabokov explora os cantos mais obscuros da mente humana, questionando as fundações sobre as quais afeição e obsessão podem, infelizmente, acabar se entrelaçando.

Mais do que uma exposição sobre a pedofilia, “Lolita” convida o leitor a contemplar a complexidade e as contradições da condição humana. Uma obra sobre manipulação, autoengano e a interminável busca por amor, entregue por meio de uma narrativa tão perturbadora quanto intricada.

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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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