Como o nome sugere, em “Noite de Maio”, de Castro Alves, temos uma espécie de ode/homenagem à beleza das noites do mês de maio. Dividido em nove estrofes, o eu-lírico foca cada uma delas em um aspecto das noites de maio: começando pelo céu noturno, refletido nas águas do mar, e passando por flores de laranjeira, ondas quebrando na praia, palmeiras balançando ao vento etc.
Como é comum em poemas do romantismo brasileiro, o eu-lírico descreve a noite como uma figura feminina, ressaltando sua beleza e expressando seu estado de admiração. Ele descreve a noite/a lua como uma noiva, como uma donzela tímida, misteriosa e sedutora.
No início do poemas, vemos a marcação “Barcarola, Música da ‘Santa Lucia'”, o que sugere que a estrutura e o ritmo do poema podem tem relação com alguma canção napolitana tradicional, já que “Barcarola” é um tipo de canção folclórica cantada por gondoleiros de Veneza. “Santa Lucia” (ver mais abaixo o vídeo com a música) é uma das mais famosas desse gênero, tendo sido registrada em 1850 por Teodoro Cottrau, então é possível que Castro Alves tenha tido contato com ela de alguma forma.
Noite de Maio, de Castro Alves
BARCAROLA
Música da “Santa Lucia”
I
NO CÉU dos trópicos
Pra sempre brilha,
Ó noite esplêndida,
Que as ondas trilha.
Do amor nas pálpebras
Acende o raio.
O noite cúmplice!
Noite de maio.
II
Vê… que astros lúcidos
Na azul clareira:
São flores níveas
Da laranjeira.
De noiva chamam-te
Em cada raio.
Noiva puríssima
Do mês de maio.
III
Do vento os hálitos
Erguem-te as tranças,
Nos seios rolam-te
Em loucas danças.
São meus anélitos,
É meu desmaio.
Ó noite cúmplice!
Noite de maio!
IV
Estrela pálida,
Moça divina!
Donzela tímida
Sob a neblina!
Teu véu empresta-me,
Teu longo saio,
Para as espáduas
Da flor de maio.
V
Nas praias nítidas
Têm voz as vagas…
São bocas trêmulas
Lambendo as plagas.
O oceano lúbrico
Beija-te o seio…
Meus versos canta-lhe,
Vaga de maio.
VI
O espelho etéreo
Das nuvens nasce,
Reflete em júbilos
A tua face.
Seu riso angélico
No céu guardai-o.
Espelho límpido
Da flor de maio.
VII
Há risos tépidos
Entre as palmeiras;
Beijam-se lânguidas
Fadas trigueiras.
Da selva o cântico
Além cantai-o,
Ó gênios cúmplices
Do céu de maio.
VIII
A lua imerge-se
Na etérea zona
A fronte inveja-te,
Dela Amazona.
Fronte de mármore
Que empresta um raio
À c’roa fúlgida
Do mês de maio.
IX
No azul dos trópicos
Suspende o passo,
As horas céleres
Prende ao regaço…
Os astros ligam-me
Num louro raio!
Sê nossa cúmplice…
Noite de maio! …
Canção ‘Santa Lucia”
Veja abaixo uma interpretação de Andrea Bocelli da tradicional canção “Santa Lucia”, que pode ter servido de inspiração para Castro Alves para a criação deste poema: