Bastante lírico, “Noite de Amor”, de Castro Alves, retrata a lembrança de um amor intenso e apaixonado, que agora causa dor e agonia no eu-lírico, que já não o tem mais para si.
O poema começa com uma lindíssima cena de amor à noite: a Lua, passando pelo azul do céu, a namorar o “alvor”, ou seja, a primeira luz do amanhecer, causando ciúme e inveja no eu-lírico. Porém, a beleza daquela noite do amor logo ganha um contraste triste: a cada suspiro de paixão e beijo, o eu-lírico recebe um “não” de sua amada, que parece não querer corresponder àquele amor.
Como “não” sempre foi “não” (fica a dica), o poema corta para o presente, onde resta ao eu-lírico lamentar aquele amor não-correspondido. Aquela noite de amor já parece distante, mas mesmo assim ele procura no vento as juras de amor, mas encontra apenas dor e sofrimento.
Noite de Amor, de Castro Alves
(RECITATIVO)
PASSAVA a lua pelo azul do espaço
De teu regaço
A namorar o alvor!
Como era tema no seu brando lume…
Tive ciúme
De ver tanto amor.
Como de um cisne alvinitentes plumas
Iam as brumas
A vagar nos céus,
Gemia a brisa — perfumando a rosa —
Terna, queixosa
Nos cabelos teus.
Que noite santa! Sempre o lábio mudo
A dizer tudo
A suspirar paixão
De espaço a espaço — um fervoroso beijo
E após o beijo
E tu dizias — “Não!… ”
Eu fui a brisa, tu me foste a rosa,
Fui mariposa
— Tu me foste a luz!
Brisa — beijei-te; mariposa — ardi-me,
E hoje me oprime
Do martírio a cruz
E agora quando na montanha o vento
Geme lamento
De infinito amor,
Buscando debalde te escutar as juras
Não mais venturas…
Só me resta a dor.
Seria um sonho aquela noite errante?…
Diz, minha amante!…
Foi real… bem sei…
Ai! não me negues… Diz-me a lua, o vento
Diz-me o tormento…
Que por ti penei!