Em “Longe de Ti”, de Castro Alves, o eu-lírico fala da saudade que sente de sua amada e, ao que tudo indica, pelo amor não correspondido que nutre por ela. Ele lamenta a distância que o separa dela e de como o tempo parece passar muito mais devagar.
A vida sem sua amada é triste; a natureza é desolada e sem vida, como fica claro no verso “fito o céu — é uma nave sem lâmpada. Fito a terra — é uma várzea sem flores“, como se a vida sem ela fosse sem cor, sem luz, sem brilho. Embora o amor entre os dois possa ser interpretado como “não correspondido”, uma das marcas do romantismo brasileiro, alguns trechos sugerem que se trata de um amor recíproco, já que o eu-lírico tem lembranças, bastante vívidas, de sorrisos e frases ditas por ela.
É um poema que lembra bastante outro de Castro Alves: “Horas de Saudade”, que você pode ler clicando aqui.
Longe de Ti, de Castro Alves
Quando longe de ti eu vegeto,
Nessas horas de largos instantes,
O ponteiro, que passa os quadrantes,
Marca séculos, se esquece de andar.
Fito o céu — é uma nave sem lâmpada.
Fito a terra — é uma várzea sem flores.
O universo é um abismo de dores,
Se a madona não brilha no altar.
Então lembro os momentos passados.
Lembro então tuas frases queridas,
Como o infante que as pedras luzidas
Uma a uma desfia na mão.
Como a virgem que as jóias de noiva
Conta alegre a sorrir de alegria,
Conto os risos que deste-me um dia
E que eu guardo no meu coração.
Lembro ainda o lugar onde estavas…
Teu cabelo, teu rir, teu vestido…
De teu lábio o fulgor incendido…
Destas mãos a beleza ideal…
Lembro ainda em teus olhos, querida,
Este olhar de tão lânguido raios,
Este olhar que me mata em desmaios
Doce, terno, amoroso, fatal!…
Quando a estrela serena da noite
Vem banhar minha fonte saudosa,
Julgo ver nessa luz misteriosa,
Doce amiga, um carinho dos teus!
E ao silêncio da noite que anseia
De volúpia, de anelos, de vida.
Eu confio o teu nome, querida,
Para as brisas levarem-no aos céus.
De ti longe minh’alma vegeta,
Vive só de saudade e lembrança,
Respirando a suave esperança
De viver como escravo a teus pés,
De sonhar teus menores desejos,
De velar em teus sonhos dourados,
“Mais humilde que os servos curvados!
“Inda mais orgulhoso que os reis”!
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Ó meu Deus! Manda às horas que fujam,
Que deslizem em fio os instantes…
E o ponteiro que passa os quadrantes
Marque a hora em que a posso fitar!
Como Tântalo à sede morria,
Sem achar o conforto preciso…
Morro à míngua, meu Deus, de um sorriso!
Tenho sede, Senhor, de um olhar.