O poema “De Longe”, de Auta de Souza, fala sobre o anseio e a distância, e como os beijos e sentimentos podem viajar além das fronteiras físicas para alcançar a pessoa amada, mesmo que apenas em desejo e espírito.
De Longe, de Auta de Souza
Para os teus anos, formosa,
Onde não vão meus desejos?
Mas, longe de ti, saudosa,
Só posso enviar-te beijos.
Seria, porém, com pressa,
Cheia de muito receio,
Que eu faria esta remessa
De beijos pelo correio.
E, então, pelo espaço alado
Eu vou soltá-los em bando,
Como um batalhão dourado
De passarinhos voando.
Podem, assim, os amores
Levar-te n’asa dispersos:
Minh’alma desfeita em flores
E o meu coração em versos.
Macaíba – 26-11-1896
Análise do poema “De Longe”
“De Longe” traz uma mensagem de amor e saudade de uma maneira delicada e lírica.
Já nos primeiros versos, a poetisa retrata a amplitude de seus desejos, direcionados à pessoa amada. O poema começa com uma pergunta (“para os teus anos, formosa, onde não vão meus desejos?”), seguida de uma afirmação saudosista (“longe de ti, saudosa, só posso enviar-te beijos”), em uma reflexão sobre aqueles sentimentos que viajam, apesar da distância.
A segunda estrofe traz uma pitada de imaginação, mencionando um possível envio de beijos pelo correio, uma metáfora para as tentativas de se sentir próximo quando separados por quilômetros de distância. E as cartas já tiveram um papel importantíssimo na história humana nesse sentido.
Há ainda um trecho de preocupação e urgência (“com pressa, Cheia de muito receio”), o que aumenta ainda mais a ideia de um desejo forte que precisa ser satisfeito.
O poema traz também uma metáfora ainda mais poética dos beijos se transformando em pássaros. A imagem de “um batalhão dourado / De passarinhos voando” transforma o ato de beijar em um símbolo de liberdade, associada à beleza do voo dos pássaros.
Por último, os amores são transformados em mensageiros alados. Finaliza o eu-lírico: “Minh’alma desfeita em flores / E o meu coração em versos”, o que sugere uma entrega total de si mesma através da poesia – as flores simbolizam a fragilidade e a beleza da alma, e os versos, a verbalização do coração.