Este poema é um dos mais famoso do poeta baiano Castro Alves. Em “Os Três Amores”, mostra a volatilidade e diversidade do amor. O poeta se coloca no lugar de três personagens para narrar histórias bastante intensas de amor.
Na primeira estrofe, o eu-lírico assume o papel de Torquato Tasso, famoso poeta italiano do Renascimento Cultural, que viveu em Ferrara (cidade mencionada no poema). Ele é descrito como o “louco bardo, que Ferrara chora” porque Tasso acabou preso por conta de sua loucura. A figura feminina dessa primeira estrofe é Eleonora, sendo uma referência a Leonor d’Este, princesa de Ferrara, Módena e Régio a quem Tasso dedicou a obra “O figlie di Renata”.
Na segunda estrofe a referência é à famosa história de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, um amor proibido entre membros de duas famílias rivais, os Capuletos e e os Montecchios. Aqui a relação já tem um caráter mais carnal, com o poeta sonhando com ela seminua e que está roubando beijos dela à luz da lua, uma cena tipicamente romântica.
Por fim, na terceira estrofe o poeta assume o papel de Don Juan, famoso personagem libertino, galanteador e conquistador de corações da literatura espanhola. A amada, agora, é comparada a Júlia, uma das personagens da história desse personagem.
Os Três Amores, de Castro Alves
I
Minh’alma é como a fronte sonhadora
Do louco bardo, que Ferrara chora…
Sou Tasso!… a primavera de teus risos
De minha vida as solidões enflora…
Longe de ti eu bebo os teus perfumes,
Sigo na terra de teu passo os lumes…
— Tu és Eleonora…
II
Meu coração desmaia pensativo,
Cismando em tua rosa predileta.
Sou teu pálido amante vaporoso,
Sou teu Romeu… teu lânguido poeta!…
Sonho-te às vezes virgem… seminua…
Roubo-te um casto beijo à luz da lua…
– E tu és Julieta…
III
Na volúpia das noites andaluzas
O sangue ardente em minhas veias rola…
Sou D. Juan!… Donzelas amorosas,
Vós conheceis-me os trenos na viola!
Sobre o leito do amor teu seio brilha
Eu morro, se desfaço-te a mantilha
Tu és — Júlia, a Espanhola!…