Em “Menina e Moça”, de Castro Alves, o eu-lírico faz uma espécie de ode ao amadurecimento de uma mulher, que está entrando na “idade ideal e feiticeira”, uma “idade festival”. A natureza é frequentemente evocada como metáforas para a juventude, o amadurecimento e o despertar para o amor. O baile, no final, reflete a vivência no amor e os prazeres sociais que ela terá agora que atingiu a maturidade.
Há, também, referências muito interessantes no poema: primeiro ao compositor Bellini, transmitindo uma sensação de nostalgia e melancolia dessa fase de transição. E, mais adiante, a Graziella, provavelmente a personagem de Alphonse de Lamartine, cuja pureza e inocência são parecidas com a da protagonista do poema.
Menina e Moça, de Castro Alves
(Versos para o álbum de D. M.
JOAQUINA DA SILVA Freire.)
MENINA e Moça! Há no volver das horas
Esta idade ideal e feiticeira;
É quando a estrela expira e rompe a aurora
Um prelúdio nos leques da palmeira.
Menina e Moça! Há no viver das flores
Este instante feliz… É quando a rosa,
Ao relento das noites perfumadas,
Abre o cálix, risonha e curiosa.
Menina e Moça! HÁ no passar dos anos
Esta estação de amor… quando nas veigas
Fazem-se em flor as folhas sussurrantes,
Beijam-se as pombas, arrulando meigas.
Menina e Moça! Há no sonhar da música
Som que esta idade festival exprime…
Quando a voz do piano espalha aos ermos
Os suspiros saudosas de Bellini.
Menina e Moça! Se a poesia esquece
Agora o tipo da criança bela,
Quem não te adora a límpida inocência,
O filha de Sorrento! Ó Graziela!
Menina e Moça! Castidade e pejo!
Crença, frescura, divinal anseio!
Por quem tu cismas? — Se pergunta à fronte.
Por quem palpitas? — Se pergunta ao seio.
Menina e Moça! É tão festivo o riso!
Chama dourada sobre os olhos brilha!
Como estalam os beijos das amigas
A donzela tem asas… de escumilha!
Menina e Moça! Como é doudo o baile!
Como são várias da existência as cenas!
Ama-se o canto — Se elas são as aves…
Ama-se a valsa. — Se elas são falenas …
Menina e Moça! Adormecida garça
Que o ma,- na riba do ideal balouça…
O bardo canta na tormenta ao longe…
Sonha o teu sonho de – menina e moça!…