Hebreia, de Castro Alves

Um dos mais famosos poemas de Castro Alves, em “Hebréia”, ou “Hebrea” como grafada na época, vemos a admiração do eu-lírico por uma mulher hebreia (ou seja, nascida entre os hebreus, povo semita monoteísta).

O poeta atribui a ela adjetivos que remetem a flores (“lírio do vale oriental”) e a elementos divinos e celestiais (“estrela vésper do pastor errante”). Como é comum no romantismo brasileiro, o eu-lírico admira sua amada à distante, pois ela está inacessível a ele, sendo um objeto de admiração, igualmente triste.

Além disso, Castro Alves também faz referência a diversos elementos da cultura e da tradição hebraica, como o Rio Jordão e a Terra Santa do Oriente, incluindo também figuras bíblicas, como Jacó, Rachel, David e Suzana.

Hebreia, de Castro Alves

Flos campi et lilium convallium
Cântico dos Cânticos

Pomba d′esp′rança sobre um mar d′escolhos!
Lírio do vale oriental, brilhante!
Estrela vesper do pastor errante!
Ramo de murta a rescender cheirosa!…

Tu és, ó filha de Israel formosa…
Tu és, ó linda, sedutora Hebreia…
Pálida rosa da infeliz Judéia
Sem ter o orvalho que do céu deriva!

Porque descoras quando a tarde esquiva
Mira-se triste sobre o azul das vagas?
Serão saudades das infindas plagas,
Onde a oliveira no Jordão se inclina?

Sonhas acaso, quando o sol declina,
A terra santa do Oriente imenso?
E as caravanas no deserto extenso?
E os pegureiros da palmeira à sombra?!…

Sim, fora belo na relvosa alfombra,
Junto da fonte onde Rachel gemera
Viver contigo qual Jacob vivera,
Guiando escravo teu feliz rebanho…

Depois nas aguas do cheiroso banho
— Como Suzana a estremecer de frio —
Fitar-te, ó flor do babilônio rio,
Fitar-te a medo no salgueiro oculto…

Vem pois!… Contigo no deserto inculto
Fugindo às iras de Saul embora,
David eu fora, — se Michol tu foras,
Vibrando na harpa do profeta o canto..

Não vês?… Do seio me goteja o pranto
Qual da torrente do Cedron deserto!…
Como lutara o patriarca incerto
Lutei, meu anjo, mas caí vencido.

Eu sou o Lothus para o chão pendido.
Vem ser o orvalho oriental, brilhante!…
Ai! guia o passo ao viajor perdido,
Estrela vesper do pastor errante…

Pintura "O Casamento Judaico", de Jozef Israëls. Ilustrando o poema "Hebreia", de Castro Alves.
Pintura "O Casamento Judaico", de Jozef Israëls. Ilustrando o poema "Hebreia", de Castro Alves.

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