Neste interessante poema de Castro Alves, “Fé, Esperança e Caridade”, o eu-lírico descreve o encontro com uma mulher, a quem ele compara a um anjo, em três fases distintas da vida: na infância, na mocidade e na maturidade.
Na infância, seu encontro foi marcado por uma alegria infantil e inocente, com ela simbolizando pureza e inocência, sendo portanto o “Anjo da Fé”. No segundo encontro, ele, apaixonado e impressionado com sua beleza, sonhava com a possibilidade de tê-la em sua vida, com ela simbolizando o “Anjo da Esperança”. No terceiro encontro, o encontro “atual” no tempo do poema, com o eu-lírico já envelhecido, amargurado, descrente do amor, teve, ao que tudo indica, finalmente o seu amor retribuído, e seus sofrimentos transformaram-se em flores. Agora, ela é a o “Anjo da Caridade”
Fé, Esperança e Caridade, de Castro Alves
Eram três anjos – e uma só mulher
QUANDO A INFÂNCIA corria alegre, à toa,
Como a primeira flor que, na lagoa,
Sobre o cristal das águas se revê,
Em minha infância refletiu-se a tua…
Beijei-te as mãos suaves, pequeninas,
Tinhas um palpitar de asas divinas…
Eras – o Anjo da Fé! …
Depois eu te revi… na fronte branca,
Radiava entre pérolas mais franca,
A altiva c’roa que a beleza trança!…
Sob os passos da diva triunfante,
Ardente, humilde, arremessei minh’alma,
Por ti sonhei — triunfador — a palma,
Ó — Anjo da Esperança!… —
Hoje é o terceiro marco dessa história.
Calcinado aos relâmpagos da glória,
Descri do amor, zombei da eternidade!…
Ai, não! – celeste e peregrina Déia,
Por ti em rosas mudam-se os martírios!
Há no teu seio a maciez dos lírios…
Anjo da Caridade!…