Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em 1847, em Cachoeira, município da Bahia, e é considerado até hoje um dos maiores poetas brasileiros do século XIX, sendo frequentemente chamado de “Poeta Republicano” e, principalmente, “Poeta dos Escravos“.
Ele foi um dos principais representantes da terceira geração do Romantismo no Brasil, também conhecida como “Condoreirismo” ou “Geração Condoreira”, que foi marcada por uma poesia com críticas e posicionamentos de cunho social e político.
Quer conhecer um pouquinho mais deste grande nome da literatura brasileira e descobrir por que recebeu os apelidos “Poeta Republicano” e “Poeta dos Escravos”? Pois é só continuar lendo esta matéria especial do Literatura Online!
Por que Castro Alves é chamado de ‘Poeta dos Escravos’?
Sem enrolação, vamos ao que realmente interessa!
Castro Alves ficou conhecido como ‘Poeta dos Escravos‘ por causa de sua poesia engajada na luta contra a escravidão, numa época em que a escravidão ainda era praticada no Brasil (não que ainda não seja, infelizmente).
Ele fez da sua poesia uma forma de protesto, uma das marcas da terceira geração do romantismo, que deixou de enxergar o Brasil de forma idealizada, reconhecendo suas mazelas sociais e denunciando as crueldades do sistema escravocrata brasileiro.
Seus poemas, como “O Navio Negreiro” e “Vozes d’África“, são exemplos precisos disso. Eles retratam a dor, o sofrimento e a desumanização dos escravizados, sendo considerados marcos na literatura abolicionista brasileira.
Sua poesia tem uma linguagem forte e emotiva, conseguindo sintetizar e transmitir bem a realidade brutal da escravidão. Confira abaixo um trecho de O Navio Negreiro:
Era um sonho dantesco… o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
Nesse trecho, o eu-lírico, que até então estava intrigado e animado com a visão de um navio desconhecido no horizonte, percebe que o navio em questão é um navio negreiro, responsável por transportar escravizados do continente africano às Américas e à Europa. A cena é de tristeza e dor, contrastando com a beleza do mar que ele havia enaltecido até então: homens e mulheres de pele preta, manchados de sangue, com algemas, correntes e crianças nos braços, sendo arrastadas e castigadas por chicotadas. O navio tornando-se um borrão, sombrio como uma cena do inferno da Divina Comédia (“um sonho dantesco”), que mais tarde o poeta roga a Deus para que seja apagado dos mares.
Ao término do poema, que você pode ler na íntegra e com explicações aqui, o eu-lírico também pede duas coisas: para que Cristovão Colombo, “descobridor” das Américas, encerrasse a rota marítima que ele ajudara a criar e que naquela época era usada para o tráfico de escravizados, e que Andrada, patrono da independência do Brasil, arrancasse a bandeira do Brasil Império do mastro.
Sendo a escravidão uma das marcas da Monarquia Brasileira da época, Castro Alves, com sua visão abolicionista, defendeu abertamente o Republicanismo no país, ao lado inclusive daquele que viria a ser um dos fundadores do Brasil República, seu amigo de faculdade de direito, Rui Barbosa.
Por isso, aliás, ele acabou conhecido também como “Poeta Republicano“. Um dos seus versos mais bonitos diz justamente: “A praça é do povo como o céu é do condor“.
Mas nem tudo são flores…
Fruto do século XIX, a poesia de Castro Alves contém algumas características que são alvo de críticas e debates atualmente, e com razão.
Por exemplo: em A Cachoeira de Paulo Afonso, um poema maior composto por 33 poemas, Castro Alves contou uma história, aparentemente fictícia, de um casal de escravizados que, cansados do sofrimento pelo qual passavam, resolvem se suicidar juntos, deixando que a correnteza da queda d’água de Paulo Afonso, no Rio São Francisco, levasse sua canoa.
Apesar de também fazer parte de sua poesia abolicionista, esse poema pode ser interpretado como uma perpetração da ideia de que resta ao escravizado apenas a morte, e não a luta por sua liberdade. Segundo historiadores, Castro Alves consertaria essa visão em República de Palmares, poema que ele começou a escrever próximo ao fim da vida, inspirando-se especialmente na Revolução Haitiana. Porém, como morreu prematuramente aos 24 anos, não chegou a escrever quase nada dele.
Outro problema: mesmo em poemas como O Navio Negreiro, a visão de Castro Alves a respeito do continente africano é bastante estereotipada. Afinal, ele só chegou a conhecer o continente através da literatura francesa, mais especificamente das obras de Victor Hugo, de quem ele era fã. E a representação da África na literatura francesa da época se limitava ao norte do continente, na região próxima ao mar mediterrâneo, enquanto que os africanos escravizados eram capturados mais no centro e no leste da África.
Em O Navio Negreiro, lemos em determinado trecho:
Depois, o areal extenso…
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos… desertos só…
Essa descrição combina mais com a região do norte, onde está localizado justamente o maior deserto quente do mundo, o Deserto do Saara, do que com Moçambique, por exemplo, de onde grande parte dos escravizados eram capturados. Embora tenha desertos, a vegetação predominante nessa região envolve savanas, florestas tropicais e manguezais.
Mas, obviamente, nada disso apaga o brilho da poesia de Castro Alves, muito menos a posição combativa que ele adotou contra a escravidão no Brasil Império.