Durante um Temporal, de Castro Alves

Durante um Temporal

VAI FUNDA a tempestade no infinito,
Ruge o ciclone túmido e feroz…
Uiva a jaula dos tigres da procela
— Eu sonho tua voz —

Cruzam as nuvens refulgentes, negras,
Na mão do vento em desgrenhados elos…
Eu vejo sobre a seda do corpete
Teus lúbricos cabelos …

Do relâmpago a luz rasga até o fundo
Os abismos intérminos do ar…
Eu sondo o firmamento de tua alma,
À luz de teu olhar …

Sobre o peito das vagas arquejantes
Borrifa a espuma em ósculos o espaço…
Eu — penso ver arfando, alvinitentes,
As rendas no regaço.

A terra treme… As folhas descaídas
Rangem ao choque rijo do granizo
Como acalenta um coração aflito,
Como é bom teu sorriso,….

Que importa o vendaval, a noite, os euros,
Os trovões predizendo o cataclismo…
Se em ti pensando some-se o universo
E em ti somente eu cismo…

Tu és a minha vida … o ar que aspiro …
Não há tormentas quando estás em calma.
Para mim só há raios em teus olhos,
Procelas em tua alma!

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