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Cansaço, de Castro Alves

Cansaço

O NÁUFRAGO nadou por longas horas…
Na praia dorme frio num desmaio.
A força após a luta abandonou-o,
Do sol queimou-lhe a face ardente raio.

Pois eu sou como o nauta… Após a luta
Meu amor dorme lânguido no peito.
Cansado… talvez morto, dorme e dorme
Da indiferença no gelado leito.

Sobre as asas velozes a andorinha
Maneira se lançou nos puros ares…
Veio após o tufão… lutou debalde,
Mas em breve boiou por sobre os mares.

Eu sou como a andorinha… Ergui meu vôo
Sobre as asas gentis da fantasia.
A descrença nublou-me o céu da vida…
E a crença estrebuchou numa agonia.

Como as flores de estufa que emurchecem
Lembrando o céu azul do seu país,
Minha alma vai morrendo, suspirando
Por seus perdidos sonhos tão gentis.

E que durma … E que durma … ó virgem santa,
Que criou sempre pura a fantasia,
Só a ti é que eu quero que te sentes
Ao meu lado na última agonia.

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