O “Soneto de Fidelidade”, de Vinícius de Moraes, é poema sobre o amor. Nele, o eu lírico reflete sobre o compromisso e a intensidade com que deseja viver essa experiência. Ele sabe que o amor não é eterno no sentido literal, mas que deve ser vivido com profundidade e dedicação enquanto existir, como uma chama que arde, mas que, cedo ou tarde, vai acabar.
Vinícius de Moraes nos apresenta uma visão do amor como algo que é valioso não por sua duração, mas por sua intensidade e plenitude.
Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Análise do poema Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes
O “Soneto de Fidelidade” fala da dedicação apaixonada do eu lírico ao amor. Desde o início, o poema sugere um compromisso inabalável com o sentimento amoroso.
Na primeira estrofe, o eu lírico promete ser “atento”, “zeloso” e a viver o amor de maneira plena, mesmo diante de encantos maiores que possam surgir. Isso indica um desejo de proteger e cultivar o amor, independentemente das adversidades ou distrações que a vida possa apresentar.
A segunda estrofe aprofunda essa dedicação, destacando que o amor deve ser vivido em cada momento, sem deixar que ele se esvazie ou perca importância. O poeta quer não apenas cantar as coisas boas do amor, mas também participar de seus altos e baixos, de suas alegrias e tristezas, como quando diz que vai “rir meu riso e derramar meu pranto“. Ou seja, ele quer acompanhar a pessoa amada tanto na felicidade do riso quanto na dor do choro.
A terceira estrofe introduz a ideia do fim da vida e, logicamente, do fim do amor. Quando a “morte” ou a “solidão” chegarem, e elas sempre chegam, o eu lírico quer poder olhar para trás e sentir que viveu o amor de forma completa e verdadeira. É aqui que o soneto atinge seu auge, ao trazer uma visão madura e realista sobre o amor: “não seja imortal, posto que é chama”, mas ainda assim pode ser “infinito enquanto dure”. Essa reflexão ecoa a famosa frase “que seja eterno enquanto dure“, uma expressão popularizada por Vinícius, que destaca que o amor deve ser vivido de forma intensa e absoluta, mesmo que tenha um fim, como uma chama.
O uso da metáfora da chama para o amor é significativo, pois remete à natureza passageira e volátil desse sentimento. Chamas não duram para sempre, mas enquanto ardem, fazem-no com intensidade e brilho. Assim, o poeta não busca eternizar o amor em termos temporais, mas sim em termos da intensidade e da profundidade com que é vivido.