O poema “Ao Pé do Túmulo”, de Auta de Souza, faz uma reflexão profunda sobre a morte e o descanso eterno.
A poetisa tem uma visão serena e resignada sobre o fim da vida, com uma mensagem consoladora para aqueles que sofrem. Estão presentes temas como libertação das amarguras terrenas, esperança de paz após a morte e consolo aos que ficam.
Ao Pé do Túmulo, de Auta de Souza
Eis o descanso eterno, o doce abrigo
Das almas tristes e despedaçadas;
Eis o repouso, enfim; e o sono amigo
Já vem cerrar-me as pálpebras cansadas.
Amarguras da terra! eu me desligo
Para sempre de vós… Almas amadas
Que soluças por mim, eu vos bendigo,
Ó almas de minh’alma abençoadas.
Quando eu d’aqui me for, anjos da guarda,
Quando vier a morte que não tarda
Roubar-me a vida para nunca mais…
Em pranto escrevam sobre a minha lousa:
“Longe da mágoa, enfim, no céu repousa
Quem sofreu muito e quem amou demais”.
Análise do poema “Ao Pé do Túmulo”, de Auta de Souza
Auta de Souza, em “Ao Pé do Túmulo”, fala de aceitação e paz diante da morte. Logo no início, a poetisa descreve o túmulo como “o descanso eterno” e “o doce abrigo / Das almas tristes e despedaçadas”, sugerindo que a morte traz alívio e tranquilidade para aqueles que sofreram em vida. Há um tom de resignação e consolo, presente ao longo de todo o poema.
O segundo verso, “Eis o repouso, enfim; e o sono amigo / Já vem cerrar-me as pálpebras cansadas”, reforça justamente essa ideia de que a morte é um descanso, um descanso merecido após uma vida de exaustão e sofrimento. O sono é representado como um “amigo”, quase como uma pessoa real, que fecha as pálpebras cansadas e transmite uma sensação de conforto e serenidade, como em um abraço acolhedor.
No segundo quarteto, Auta de Souza fala do fim das “amarguras da terra”, um rompimento definitivo com as dores e dificuldades comuns da vida. Abençoando as “almas amadas / Que soluças por mim”, ela reconhece a dor dos que ficam, mas também os consola com sua bênção, criando um vínculo de amor e gratidão.
Os dois últimos tercetos do soneto fazem um olhar mais específico sobre o momento da morte. “Quando eu d’aqui me for, anjos da guarda, / Quando vier a morte que não tarda / Roubar-me a vida para nunca mais…” reforça a aceitação serena e inevitável do fim. A invocação dos anjos da guarda é um elemento espiritual e protetor, uma menção à crença na continuidade e na proteção em um plano espiritual, além da vida na Terra.
Finalmente, o eu-lírico menciona o que gostaria de ter escrito em seu túmulo: “Longe da mágoa, enfim, no céu repousa / Quem sofreu muito e quem amou demais”, inscrição que resume a essência do poema. Ela faz o papel de um epitáfio, que guarda toda a dor e o amor vividos, além de uma mensagem de paz e redenção para os que ficarem.