Não subestime: as questões de Literatura no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são desafiadoras, pois exigem dos candidatos uma compreensão profunda e diversificada dos textos literários, estilos de época, figuras de linguagem e gêneros literários.
Para garantir um bom desempenho, é essencial focar nos temas mais recorrentes e desenvolver habilidades específicas de interpretação e análise.
1 – Interpretação de Textos Literários
A interpretação de textos literários é, sem dúvida, a habilidade mais avaliada no Enem. As questões frequentemente trazem poemas ou trechos de narrativas de diferentes períodos literários.
Compreender os conceitos teóricos da literatura é importante, mas o principal é a capacidade de entender o que se lê. E só tem um jeito de melhorar isso: lendo com frequência, o que também te ajudará a fazer uma boa redação.
- Dica importante: A habilidade de descartar alternativas incorretas com base no texto é crucial para responder corretamente.
Exemplo de Questão de Interpretação de Texto Literário
(ENEM 2020) Questão 45
Viajo Curitiba das conferências positivistas, elas
são onze em Curitiba, há treze no mundo inteiro; do
tocador de realejo que não roda a manivela desde que
o macaquinho morreu; dos bravos soldados do fogo que
passam chispando no carro vermelho atrás do incêndio
que ninguém não viu, esta Curitiba e a do cachorro-quente
com chope duplo no Buraco do Tatu eu viajo.
Curitiba, aquela do Burro Brabo, um cidadão
misterioso morreu nos braços da Rosicler, quem foi?
quem não foi? foi o reizinho do Sião; da Ponte Preta da
estação, a única ponte da cidade, sem rio por baixo, esta
Curitiba viajo.
Curitiba sem pinheiro ou céu azul, pelo que vosmecê
é — província, cárcere, lar —, esta Curitiba, e não a outra
para inglês ver, com amor eu viajo, viajo, viajo.TREVISAN, D. Em busca de Curitiba perdida. Rio de Janeiro: Record, 1992.
A tematização de Curitiba é frequente na obra de Dalton
Trevisan. No fragmento, a relação do narrador com o
espaço urbano é caracterizada por um olhar:
(A) destituído de afetividade, que ironiza os costumes e
as tradições da sociedade curitibana.
(B) marcado pela negatividade, que busca desconstruir
perspectivas habituais de representação da cidade.
(C) carregado de melancolia, que constata a falta
de identidade cultural diante dos impactos da
urbanização.
(D) embevecido pela simplicidade do cenário, indiferente
à descrição de elementos de reconhecido valor
histórico.
(E) distanciado dos elementos narrados, que recorre
ao ponto de vista do viajante como expressão de
estranhamento
Resposta correta: LETRA B. Dalton vai tecendo um olhar negativo em relação à curitiba, como no trecho “Curitiba sem pinheiro ou céu azul”, que é, ao mesmo tempo, cárcere e lar (então há ainda amor em sua fala), que tem ponte sem rio, artistas que não tocam etc. Ou seja, ele desconstrói visões estereotipadas e manchadas de positivismo exacerbado da capital do Paraná.
2 – Estilos de Época
Entre os estilos de época, o Modernismo Brasileiro é o que é mais cobrado, especialmente as produções das três gerações modernistas (com destaque para a terceira).
As três gerações modernistas têm características distintas que devem ser estudadas: a primeira geração é marcada pelo nacionalismo e a ruptura com a tradição; a segunda geração, pela influência do realismo/naturalismo e simbolismo; e a terceira geração, pelo passadismo, retorno ao passado e inovações linguísticas.
A literatura contemporânea também aparece com destaque, seguida por romantismo, pré-modernismo, realismo e concretismo.
Outros estilos, como arcadismo, simbolismo, naturalismo, quinhentismo, parnasianismo, classicismo, barroco e a geração de 1945, também são abordados, embora com menor frequência.
O que estudar de Literatura Contemporânea?
A literatura contemporânea é uma das estéticas mais amplas e incidentes no Enem, abrangendo produções desde a década de 60 até os dias atuais.
As características desse período incluem ecletismo, prosa com teor histórico, social e urbano, poesia com teor íntimo, visual e marginal, temática cotidiana e regionalista, experimentalismo formal, técnicas inovadoras, formas reduzidas e econômicas, intertextualidade e metalinguagem.
Autores como José Paulo Paes, Lygia Fagundes Telles, Rubem Braga, Ferreira Gullar, Luis Fernando Verissimo, Itamar Vieira Júnior, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Carolina Maria de Jesus, Hilda Hilst e Paulo Leminski são frequentemente mencionados.
Exemplo de Questão (Modernismo Brasileiro)
(ENEM 2020) QUESTÃO 40
— O senhor pensa que eu tenho alguma fábrica de
dinheiro? (O diretor diz essas coisas a ele, mas olha
para todos como quem quer dar uma explicação a todos.
Todas as caras sorriem.) Quando seu filho esteve doente,
eu o ajudei como pude. Não me peça mais nada. Não me
encarregue de pagar as suas contas: já tenho as minhas,
e é o que me basta… (Risos.)
O diretor tem o rosto escanhoado, a camisa limpa. A
palavra possui um tom educado, de pessoa que convive
com gente inteligente, causeuse. O rosto do Dr. Rist
resplandece, vermelho e glabro. Um que outro tem os
olhos no chão, a atitude discreta.
Naziazeno espera que ele lhe dê as costas, vá reatar
a palestra interrompida, aquelas observações sobre a
questão social, comunismo e integralismo.MACHADO, D. Os ratos. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
A ficção modernista explorou tipos humanos em situação
de conflito social. No fragmento do romancista gaúcho,
esse conflito revela a:
(A) sujeição moral amplificada pela pobreza.
(B) crise econômica em expansão nas cidades.
(C) falta de diálogo entre patrões e empregados.
(D) perspicácia marcada pela formação intelectual.
(E) tensão política gerada pelas ideologias vigentes.
Resposta correta: LETRA A. Há uma sujeição moral (ou seja, uma dependência moral) do Naziazeno aumentada por sua pobreza, sujeitando-se moralmente ao seu patrão e sendo alvo de recusa.
3 – Figuras de Linguagem
As figuras de linguagem são outro tema recorrente.
A identificação de metáforas, paradoxos, antíteses e sinestesias é frequentemente exigida, então é importante ter esses assuntos na ponta da língua.
A metáfora, bastante usada na poesia e na literatura como um todo, é a figura de linguagem mais cobrada, sendo fundamental para a interpretação de muitos textos literários presentes na prova. Ela é uma figura de linguagem que faz uma comparação entre duas coisas diferentes, sem usar palavras como “como” ou “parece”. Em vez de dizer que algo é “como” outra coisa, a metáfora afirma que algo é outra coisa para destacar suas semelhanças.
Por exemplo, dizer que alguém “é um leão”. Não significa que ela é realmente um leão, mas que essa pessoa têm características associadas aos leões, como força e coragem.
Exemplo de Questão
(ENEM 2020) QUESTÃO 30
Essa campanha de conscientização sobre o assédio
sofrido pelas mulheres nas ruas constrói-se pela
combinação da linguagem verbal e não verbal. A imagem
da mulher com o nariz e a boca cobertos por um lenço é
a representação não verbal do(a):
(A) silêncio imposto às mulheres, que não podem
denunciar o assédio sofrido.
(B) metáfora de que as mulheres precisam defender-se
do assédio masculino.
(C) constrangimento pelo qual passam as mulheres e
sua tentativa de esconderem-se.
(D) necessidade que as mulheres têm de passarem
despercebidas para evitar o assédio.
(E) incapacidade de as mulheres protegerem-se da
agressão verbal dos assediadores
Resposta correta: LETRA B. O uso da metáfora é claro, com a rua sendo comparada a um campo de batalha de questões de gênero.
4 – Artes, Música e Poemas
As questões relacionadas às artes visuais, especialmente a arte contemporânea, e à interpretação de músicas e poemas são também bastante comuns no Enem. Como letras dos Racionais MC em questões relacionadas a violência policial, preconceito ou mazelas da vida na periferia.
Para se dar bem nessas questões, é importante ter conhecimento das manifestações artísticas ao longo do tempo e desenvolver habilidades de interpretação textual.
Exemplo de Questão
(ENEM 2020) QUESTÃO 27
Caminhando contra o vento,
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bombas e Brigitte Bardot
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou
VELOSO, C. Alegria, alegria. In: Caetano Veloso.
São Paulo: Phillips, 1967 (fragmento).
É comum coexistirem sequências tipológicas em um
mesmo gênero textual. Nesse fragmento, os tipos textuais
que se destacam na organização temática são:
(A) descritivo e argumentativo, pois o enunciador detalha
cada lugar por onde passa, argumentando contra a
violência urbana.
(B) dissertativo e argumentativo, pois o enunciador
apresenta seu ponto de vista sobre as notícias
relativas à cidade.
(C) expositivo e injuntivo, pois o enunciador fala de
seus estados físicos e psicológicos e interage com a
mulher amada.
(D) narrativo e descritivo, pois o enunciador conta sobre
suas andanças pelas ruas da cidade ao mesmo
tempo que a descreve.
(E) narrativo e injuntivo, pois o enunciador ensina
o interlocutor como andar pelas ruas da cidade
contando sobre sua própria experiência
Resposta correta: LETRA D. Há uma narração e uma descrição do que ele está vendo conforme anda pela cidade. Em nenhum momento ele argumenta, disserta nem instrui. Apenas narra e descreve.