No poema “Versos para Música”, do renomado poeta brasileiro Castro Alves, o autor aborda o tema da ingratidão, explorando a dualidade entre o amor e a descrença na própria capacidade de amar.
Versos para Música
INGRATA! E fazes milagres
E não crês em ti sequer.
Vê, teu riso quebra as lousas,
Eu sou Lázaro, mulher.
Tu me perguntas, formosa,
Se a alma tem outra flor…
Se revive murcha a rosa…
Se renasce morto o amor…
Ingrata! pois tu duvidas?
Do influxo do teu poder!…
Minhalma é planta aquecida
Nos teus sorrisos, mulher.
Ingrata! Tu que dás vida
Não vês sequer teu poder!…
Olha-me! Eu vivo, querida!…
Eu sou Lázaro, mulher!
Eu era a triste crisálida,
Tu foste a luz do arrebol!…
Minhalma desperta válida
Aos raios da luz do sol!…
Ingrata! Inda assim duvidas
Do influxo de teu poder…
Vês, minhalma? É borboleta
Que tu salvaste, mulher.
Ingrata! E fazes prodígios
E não crês em ti sequer!…
Minha alma é lousa florida
Aos teus afagos, mulher!
Análise do poema “Versos para Música”, de Castro Alves
Neste poema, Castro Alves expressa sua perplexidade diante da dúvida e da falta de confiança da amada em seu próprio poder de transformar e reviver o amor. O poeta utiliza a figura de Lázaro, ressuscitado por Jesus no Novo Testamento, para representar a sua própria condição de ressurreição através do poder da amada.
A imagem inicial da mulher ingrata que realiza milagres, mas não acredita em si mesma, estabelece o conflito central do poema. O poeta, usando a figura de Lázaro, se mostra vivo e despertado para o amor por causa do poder da amada. Ele se compara a uma crisálida triste que é transformada em borboleta pela luz do sol, simbolizando a transformação da sua alma através do amor.
A dualidade entre a gratidão e a dúvida perpassa todo o poema. O poeta reforça a ingratidão da amada ao desacreditar do seu próprio poder e não perceber como ela o transformou. Ele a chama de mulher prodigiosa, capaz de milagres, mas que não enxerga sua própria grandeza. A lousa quebrada pelo riso dela representa a quebra de limites e barreiras impostas ao amor.
Através de metáforas poderosas como a crisálida, a borboleta, o sol e a lousa florida, o poeta evoca imagens que remetem à transformação, ao renascimento e à vida plena. O uso dos versos rimados e da musicalidade na construção poética intensifica o poder das palavras e o impacto emocional da mensagem transmitida.
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