O poema “Se Eu te Dissesse”, escrito por Castro Alves, trata de temas como a paixão, a saudade e a busca pelo amor.
Se Eu te Dissesse, de Castro Alves
SE EU te dissesse que cindindo os mares,
Triste, pendido sobre a vítrea vaga,
Eu desfolhava de teu nome as pétalas
Ao salso vento, que as marés afaga…
Se eu te dissesse que por ermos cimos,
Por ínvios trilhos de uni país distante,
Teu casto riso, teu olhar celeste
Ungia o lábio ao viajor errante;
Se eu te dissesse que do alvergue à ermida,
Do monte ao vale, da chapada à selva,
Junta comigo vagueou tua alma;
Junta comigo pernoitou na relva;
Se eu te dissesse que ao relento frio
Dei minha fronte à viração gemente,
E olhando o rumo de teu lar — saudoso,
Molhei as trevas de meu pranto algente;
Se eu te dissesse, bela flor das saias!
Que eu dei teu nome dos sertões às flores!…
E ousei, na trova em que os pastores gemem,
Por ti, senhora, improvisar de amores;
Se eu te dissesse que tu foste a concha
Que o peregrino traz da Terra Santa,
Mago amuleto que no seio mora,
Doce relíquia… talismã que encanta!… ;
Se eu te dissesse que tu foste a rosa
Que ornava a gorra ao menestrel divino;
Cruz que o Templário conchegava ao peito
Quando nas naves reboava o hino;
Se eu te dissse que tu és, criança!
O anjo-da-guarda que me orvalha as preces…;
Se eu te disserte… — Foi talvez mentira! —
Se eu te dissesse… Tu talvez dissesses…
Análise do poema “Se eu te dissesse”
Neste poema, Castro Alves utiliza uma linguagem poética e cheia de metáforas para expressar seus sentimentos de amor e saudade. O poeta descreve uma paixão intensa, revelando a dor de estar distante do ser amado e a tentativa de manter viva a conexão entre eles.
Através de metáforas como “cindindo os mares” e “desfolhava de teu nome as pétalas”, o poeta retrata a separação física, a solidão e a saudade que sente. Castro Alves também faz referências a elementos da natureza, como “erros cimos”, “ínvios trilhos” e “mar”, para representar a jornada do viajante em busca do amor.
As palavras “casto riso” e “olhar celeste” mostram a admiração e o encanto que o poeta sente pela pessoa amada, enquanto expressões como “vagueou tua alma” e “pernoitou na relva” transmitem a ideia de uma conexão espiritual profunda.
O poema continua com referências religiosas, como a “concha” e a “Terra Santa”, simbolizando a fé e a proteção divina. A imagem da “rosa”, associada à figura do “menestrel divino”, sugere a beleza e a inspiração que a amada traz para o poeta.
No final do poema, o poeta deixa em aberto a possibilidade de que tudo o que foi dito seja apenas uma fantasia ou uma mentira, destacando a incerteza que acompanha os sentimentos amorosos.
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