5 melhores poemas sobre o Tempo

O tempo é um dos temas mais universais e recorrentes na literatura, abordado por poetas de diferentes épocas e estilos. Cada autor oferece uma perspectiva única sobre sua passagem, efeitos e mistérios.  A seguir, apresentamos uma seleção de cinco poemas que exploram o tempo de maneiras profundas e emocionantes.

O Tempo, de Mario Quintana

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Nesse poema, Mario Quintana reflete sobre a inevitabilidade da passagem do tempo e o arrependimento que ela pode trazer. A repetição de “quando se vê” reforça a rapidez com que a vida passa e a sensação de impotência diante dessa transitoriedade. O eu-lírico lamenta as oportunidades perdidas e expressa um desejo de ter aproveitado melhor cada momento.

A mensagem central é um alerta sobre a importância de viver intensamente, sem deixar que o tempo escorra pelos dedos, sem que se tenha aproveitado as coisas simples e fundamentais da vida, como o amor e a felicidade.

O tempo passa? Não passa., de Carlos Drummond de Andrade

O tempo passa? Não passa
no abismo do coração.
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.

O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.

Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.

O meu tempo e o teu, amada,
transcendem qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.

São mitos de calendário
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer toda a hora.

E nosso amor, que brotou
do tempo, não tem idade,
pois só quem ama
escutou o apelo da eternidade.

Aqui, Drummond desafia a concepção linear do tempo ao afirmar que ele “não passa” no coração. Para o poeta, o amor tem o poder de transcender as barreiras temporais, unindo os amantes em uma fusão perfeita, onde “meu tempo e o teu” tornam-se indissociáveis.

O poema também questiona as convenções impostas pelos calendários e datas, sugerindo que o verdadeiro sentido do tempo reside no amor, o “sumo da vida”.

É uma reflexão sobre como os sentimentos mais profundos podem paralisar a percepção do tempo, criando uma eternidade própria para os amantes.

Soneto de Fidelidade, de Vinícius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Em Soneto de Fidelidade, Vinícius de Moraes aborda o tempo em relação ao amor, destacando a intensidade e a dedicação necessárias para viver um grande amor. Ele reconhece a finitude da vida e, consequentemente, do próprio amor, afirmando que “não seja imortal, posto que é chama”.

No entanto, o poeta valoriza a qualidade do amor, desejando que ele seja “infinito enquanto dure”. A ideia central é a de que, embora o tempo possa ser implacável e o amor efêmero, a vivência plena e intensa desse sentimento é o que realmente importa.

Soneto 60, de William Shakespeare

Como as ondas se arremessam contra as pedras,
Aproximam-se os minutos de seu fim;
Cada um ocupando o mesmo espaço,
Num incansável e destemido movimento.
Do nascimento, após vir à luz,
Engatinhamos até a maturidade, e somos coroados,
Vencendo estranhos eclipses perante sua glória,
E o Tempo, dado, que hoje nos lega seu presente.
Os dias firmam seu passo na juventude,
E cavam suas sendas sobre a fronte da beleza;
Alimentam-se da raridade da verdade da natureza,
Mas nada impede o firme corte de sua foice.
Porém, às vezes, espero que meu verso prevaleça,
Elevando teu valor, apesar de seu cruel desmando.

Shakespeare, em seu Soneto 60, usa a metáfora das ondas que se arremessam contra as pedras para ilustrar a inevitável passagem do tempo. A construção do poema reflete a luta contra o envelhecimento e a mortalidade, características do tempo que avança, quer a gente queira ou não.

O poeta reconhece a implacabilidade do tempo, que corrói a beleza e a juventude, mas expressa a esperança de que seus versos possam resistir a essa força destrutiva, passando adiante o valor e a essência do que é descrito. É uma reflexão sobre a transitoriedade da vida e a tentativa de eternizar momentos através da arte.

O Tempo, de Carlos Drummond de Andrade

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.

Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.

Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.

Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.

Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas…
Mas nada seria suficiente…

Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.

E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade.

Por fim, Drummond apresenta uma visão crítica e bem-humorada sobre a maneira como o tempo foi organizado em calendários e anos. Ele reflete sobre como essa divisão artificial do tempo cria uma pressão sobre as pessoas, levando-as ao esgotamento.

Contudo, o poeta também fala sobre o “milagre da renovação” que acontece a cada novo ano, uma oportunidade de recomeçar e acreditar que o futuro pode ser diferente.

O poema termina com uma série de desejos, enfatizando a importância de ter grandes sonhos e desejos que guiem a vida de maneira significativa. E assim, com essa mensagem, é que terminamos a postagem de hoje!

Pintura "A Dança da Vida", de Edvard Munch
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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