Leilão de Jardim, de Cecília Meireles – Poema completo e Análise

Cecília Meireles, ao longo de sua obra, sempre explorou temas como a infância, a natureza e a efemeridade da vida. O poema “Leilão de Jardim” é um exemplo perfeito de como ela conseguia transformar o cotidiano em poesia, revelando a beleza escondida nas coisas mais simples e, ao mesmo tempo, provocando uma reflexão profunda sobre o mundo ao nosso redor.

Leilão de Jardim, de Cecília Meireles

Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão.)

Análise do poema Leilão de Jardim, de Cecília Meireles

“Leilão de Jardim”, de Cecília Meireles, é um poema encantador que mistura simplicidade e profundidade, características marcantes da obra da autora. Com versos curtos e com rimas, a poetisa nos convida a entrar em um universo infantil, onde a natureza é apresentada como um tesouro a ser negociado em um leilão imaginário.

Logo no início, vemos a pergunta: “Quem me compra um jardim com flores?”. Ao longo dos versos,  vemos vários elementos naturais — borboletas, passarinhos, raios de sol — que são apresentados como itens à venda em um leilão. Essa ideia de “vender” a natureza traz um mistura de inocência e ironia, já que, ao mesmo tempo, coloca a natureza como um bem-valioso, e ao mesmo tempo pode revelar uma crítica à mercantilização de tudo, ou seja, a transformação de tudo em mercadoria, até mesmo as coisas mais simples e puras, como um jardim.

Cecília Meireles utiliza uma linguagem acessível, quase como se estivesse falando diretamente com uma criança. Os objetos descritos no poema — o caracol, o formigueiro, a cigarra — são representações da biodiversidade e da harmonia que existe em um jardim. A “estátua da Primavera”, por exemplo, não é apenas uma símbolo da estação, mas também simboliza a ideia de renovação e continuidade da vida.

O poema também usa uma rica sonoridade, com rimas internas que contribuem para o ritmo leve e fluido da leitura. Essa musicalidade, combinada às imagens coloridas e vibrantes, cria um ambiente quase mágico, onde o leitor é convidado a sonhar e a valorizar a simplicidade das pequenas coisas da vida.

O último verso, “Este é o meu leilão”, fecha o poema com uma declaração que reforça o tom de brincadeira, mas também de reflexão. O “leilão” aqui não é literal, mas sim uma metáfora para o valor que atribuímos às coisas do mundo. Quem de fato pode “comprar” a natureza? Quem pode determinar o valor de algo tão precioso e imaterial? São essas questões que o poema sutilmente nos leva a ponderar.

Pintura de Carl Larsson. Ilustrando o poema Leilão de Jardim, de Cecília Meireles
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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