“As Borboletas”, de Vinícius de Moraes, é um poema infantil escrito em 1970 que descreve as características de diferentes borboletas por suas cores. No entanto, ao olhar mais de perto, é possível perceber camadas de significado que revelam aspectos problemáticos, especialmente no contexto racial.
As Borboletas, de Vinícius de Moraes
Rio de Janeiro, 1970
Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então…
Oh, que escuridão!
Análise do poema As Borboletas, de Vinícius de Moraes
“As Borboletas” de Vinícius de Moraes é um poema curto, composto por estrofes simples e diretas que descrevem borboletas de diferentes cores e suas respectivas características.
O poema começa com uma lista de cores: “Brancas / Azuis / Amarelas / E pretas”. As borboletas brincam na luz, um cenário que evoca alegria e leveza. Em seguida, o eu-lírico passa a descrever cada borboleta por sua cor, e atribui características específicas a cada uma: as borboletas brancas são “alegres e francas”, as azuis “gostam muito de luz”, as amarelas são “bonitinhas”, e as pretas estão associadas à “escuridão”.
Essa última associação é especialmente problemática e já promoveu debates sobre questões raciais. Ao afirmar “E as pretas, então… / Oh, que escuridão!”, o poema sugere que a cor preta está ligada a algo negativo, escuro e, implicitamente, ruim.
Apesar do argumento de que “escuridão” foi escolhido para criar a rima com “então”, é difícil não interpretar essa associação como um reforço a estereótipos racistas, pois sugere que o preto é algo indesejável ou assustador, enquanto as outras cores são retratadas de forma positiva e atraente. Especialmente quando consideramos o contexto cultural e histórico do autor.
Vinícius de Moraes, conhecido por se autodenominar “o branco mais preto do Brasil” pela sua associação ao Samba e a religiões de matriz africana, revela uma complexa relação com a negritude. Apesar de seu envolvimento com a cultura negra e a música brasileira, que tem raízes profundas na experiência negra, suas obras e declarações mostram contradições inerentes ao racismo estrutural presente na sociedade brasileira. Este racismo, embora muitas vezes não intencional e motivo pela sociedade da qual fez parte, transparece em sutilezas e omissões, como é o caso neste poema.
Ao discutir esse poema em sala de aula, é importante que os educadores estejam atentos a esses sutis detalhes, que podem ser usados como perpetuadores de preconceitos. Questionar e problematizar essas representações é sempre bem-vindo!
No caso da canção não vejo se tratar de algo racista, falar que o preto está racionada a escuridão científicamente é uma definição. Preto é ausência de luz, ou seja na arte usamos o preto pra escurecer algo e o branco pra iluminar. Então acho que as vezes tem coisas que as pessoas criam polêmica, se fosse um xingamento ou gestos que causem dano até concordava.