Stephen King, um ícone indiscutível do terror e do sobrenatural, nos oferece uma viagem aterrorizante com “Milha 81”, um conto publicado originalmente como um e-book em 1 de setembro de 2011. Mas será que, também abordando o tema de um carro assassino, chega próximo a Christine?
O conto Milha 81 de Stephen King
Este conto, que posteriormente integrou a coleção “O Bazar dos Sonhos Ruins” em 2015, traz uma premissa intrigante ambientada em um posto de descanso abandonado, ao lado de um antigo Burger King, no Maine Turnpike – o cenário perfeito para acontecimentos bizarros, característico nas obras de Stephen King.
A narrativa começa com Pete Simmons, um garoto de 10 anos que, impedido de ir se divertir com os amigos do irmão mais velho em uma perigosa brincadeira propícia a quebrar o pescoço, resolve criar sua própria aventura em um lugar esquecido pela sociedade: um antigo Burger King de um abandonado posto de descanso na Milha 81. Após encher a cara de vodka e disparar alguns dardos num pôster do Justin Bieber, ele acaba pegando no sono em um sujo colchão abandonado.
Enquanto Pete Simmons dorme, acompanhamos os eventos do entorno a partir da ótica de outros personagens. O terror começa a partir do momento em que uma antiga perua, completamente suja de barro, estaciona na área de descanso e abre uma de suas portas, de modo que alguns dos motoristas que passam acabam parando para oferecer ajuda, acreditando que o motorista da perua (que na verdade não existe, já que ela anda sozinha) sofreu algum tipo de acidente.
Alerta de Spoiler: o veículo é, na verdade, uma entidade extraterrestre predadora, assumindo a forma de um carro para atrair suas vítimas. Depois que você encosta na perua, não há nada que te desgrude, e você acaba lentamente devorado. O primeiro personagem que estaciona para ajudar, o corretor de seguros Doug Clayton, chega a lembrar do que sua mãe dizia quando preparava asinhas de frango, enquanto seu braço é engolido pelo monstro: “coma tudinho antes de jogar os ossinhos fora, porque a carne mais gostosa é a que fica bem grudadinha no osso“.
O conto se desenrola com uma série de personagens pitorescos – desde o já mencionado corretor de seguros, um homem de negócios portando uma Bíblia como seu “manual de seguros”, até crianças e uma ex-lutadora que está transportando um cavalo. Cada personagem tem um encontro fatal com a perua, até o momento em que o jovem Pete Simmons acorda, ouvindo gritos e sirenes, e toma uma atitude inusitada ainda sob o efeito do álcool.
“Milha 81” foi bem recebido pela crítica. Publicações como a Library Journal e Publishers Weekly elogiaram a obra por sua narrativa envolvente e capacidade de manter o leitor à margem do assento. O conto é uma adição marcante ao rico catálogo de histórias de King, destacando-se por sua mistura de horror sobrenatural e a exploração do comportamento humano frente ao desconhecido.
Vale a pena ler Milha 81?
Indo direto ao ponto: vale. Como tudo o que Stephen King escreve, a leitura flui muito bem, os personagens são bem construídos e interessantes, o horror se manifesta de forma gradual e intensa. Porém, o final é bem… meh.
Fica um gostinho de: é sério que um perigo extraterrestre e ancestral foi derrotado de uma forma tão simples dessas? Até rola um “momento Arma de Tchekhov“, com um objeto mencionado anteriormente voltando como a grande carta na manga de um dos personagens. Porém, nada me tira da cabeça que o carro, se quisesse, poderia apenas acelerar e fugir dali, ou devorar todos com facilidade.
De qualquer forma, sendo um conto, e o primeiro do livro O Bazar dos Sonhos Ruins, recomendamos que você dê uma chance. Tanto para saber o que esperar dos próximos contos, quanto para tirar suas próprias conclusões.
Sobre o livro O Bazar dos Sonhos Ruins
“O Bazar dos Sonhos Ruins” é uma coleção de histórias curtas de Stephen King, lançada em 3 de novembro de 2015. A antologia reúne uma grande quantidade de contos, demonstrando a habilidade de King em transitar por diversos gêneros literários.
Desde narrativas macabras até reflexões introspectivas sobre a condição humana, King oferece um leque diversificado de histórias, e “Milha 81” se destaca como a abertura da coleção. Segundo King, uma das suas histórias favoritas, reescrita depois de passar anos engavetada – e perdida.
A coleção, que também inclui contos inéditos e revisões de trabalhos anteriormente publicados, é uma leitura obrigatória para os fãs do autor e para aqueles que apreciam a literatura que desafia os limites do imaginável.