Em uma primeira leitura, “Masks” de Shel Silverstein (1930-1999) pode parecer um poeminha de estrutura simples e fácil compreensão. Contudo, mergulhando nas entrelinhas, emergimos em um mar de questões intrínsecas à condição humana, como autenticidade, reconhecimento e os efeitos corrosivos da ocultação da verdadeira identidade.
Máscaras, de Shel Silverstein
Ela tinha a pele azul, E ele também. Ele a escondia, E ela também. Procuraram pelo azul A vida toda. Então passaram direto um pelo outro – E nunca souberam.
“Masks”, de Shel Silverstein
She had blue skin, And so did he. He kept it hid And so did she. They searched for blue Their whole life through, Then passed right by – And never knew.
Análise do poema “Masks”
O poema “Masks” revela muito mais do que seus poucos versos poderiam sugerir à primeira vista. O poema utiliza a simplicidade na expressão para falar sobre a complexidade da natureza humana, desafiando-nos a desvendar o paralelo que ele estabelece com nossas próprias vidas.
Com personagens anônimos emblemáticos de nossa própria realidade, “ela” e “ele”, possuem a pele azul, uma característica única que poderia ser interpretada como uma particularidade, talento, defeito ou até mesmo um segredo íntimo. “Azul” costuma ser associado à melancolia ou ao diferente, o que já adiciona uma camada de interpretação à cor escolhida pelo autor.
Eles “esconderam” suas verdadeiras identidades, talvez por medo de rejeição ou incompreensão, e passaram a vida inteira na busca por algo que, ironicamente, já possuíam. Silverstein toca aqui no tema universal do autoconhecimento e do quanto a busca externa reflete, muitas vezes, um desconhecimento interno.
O trágico encontro, onde eles “passaram direto – E nunca souberam”, mostra o paradoxo de duas almas afins separadas não pela falta de semelhanças, mas pelo receio de mostrar-se como verdadeiramente são. O final abrupto e sem solução reflete a natureza muitas vezes incompleta e não resolvida de nossas próprias narrativas pessoais.
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