Em “Martírio”, de Castro Alves, somos apresentados a uma história de amor não correspondido, que resulta em mágoa, desespero e ressentimento. Esse tema do “amor não correspondido”, e de uma mulher idealizada, descrita como um verdadeiro anjo na terra, são marcas comuns da poesia romântica. Outras poemas de Castro Alves que tratam desse mesmo assunto são Horas de Martírio e Longe de Ti.
Transtornado de tristeza e de angústia, ele a vê em tudo o que enxerga: no céu vê seus encantos, na brisa seus cantos, na noite seus cabelos escuros, no luar os seus olhos etc. E assim ele segue até o final: sem conseguir um amor correspondido, e sem conseguir tirá-la da cabeça.
Martírio, de Castro Alves
A linda morena que, louco, adorava,
Que em sonhos beijava, tremendo de amor,
Não viu meus amores, descreu do meu canto,
Sorriu do meu pranto, com riso traidor.
Cismava — era ela o meu bom pensamento;
O meu sentimento se louco sentia;
Meu anjo da guarda nas noites de insônia,
Meu doce favônio se a espr’ança nascia.
E sempre eu a via: no céu seus encantos,
Na brisa os seus cantos julgava escutar,
Na noite o negrume dos negros cabelos,
Seus olhos tão belos no belo luar.
Mas foi um delírio de louca miragem
Formosa paisagem do amor que sonhei…
A rosa que dei-lhe, queimada de beijos,
Serviu aos desejos de alguém? oh! não sei…
Mulher, sim, não rias do pobre, do triste!
Por que não cuspiste na pobre flor?
Mas fundo desprezo mostrar-me quiseste,
Ludíbrio fizeste de mim, deste amor…
Pois bem; eu não posso deixar de adorar-te…
Quem pode escapar-te, quem pode esquecer-te?
Desprezos não matam amores tão santos,
Só posso meus prantos p’ra sempre esconder-te.
Despreza-me, virgem, minh’alma te implora!
Verás nessa hora que chama de amor!
E cada suplício que sofra minh’alma
É mais uma palma da c’roa da dor.