Um conceito frequentemente utilizado no mundo literário, a Intertextualidade é fundamental para entender a complexa teia de conexões entre diferentes obras literárias. Este termo, embora pareça moderno, vem desempenhando um papel importante na formação do significado dos textos ao longo da história da literatura.
O que é Intertextualidade?
A intertextualidade ocorre quando um texto ganha significado através da relação com outro texto.
Essa conexão entre duas ou mais obras pode ser feita de diferentes maneiras, como:
- Citações explícitas feitas por um autor
- Menções a narrativas ou personagens de outros textos
- Ou até mesmo por meio da imitação e da paródia, dois tipos importantes de relação intertextual.
Destacamos também que a intertextualidade pode surgir da interpretação do leitor, que relaciona dois textos com base em seu próprio repertório cultural. Ou seja, mesmo que o autor não tenha estabelecido uma conexão direta com outro texto, você, enquanto leitor, pode estabelecer essa conexão durante sua leitura.
A intertextualidade na Literatura
Na literatura, a intertextualidade é um elemento essencial para que possamos compreender e aprofundar obras.
Ela pode se apresentar de duas formas principais:
- Referencial, utilizando trechos específicos de outros trabalhos;
- Tipológica, usando padrões e estruturas recorrentes.
Em ambos os casos, o recurso valoriza a narrativa ao estabelecer uma conexão com a bagagem literária do leitor, ampliando as camadas de interpretação da obra.
A evolução da Intertextualidade
O termo intertextualidade foi criado pela crítica literária Julia Kristeva nos anos 60, durante o período que chamamos “pós-estruturalismo”, para unificar conceitos da semiótica, em especial os estudos de Ferdinand de Saussure, o Pai da Linguística Moderna, sobre a relação entre os signos linguísticos (não confundir com os signos astrológicos).
Porém, esse definitivamente não é uma criação da era pós-moderna, já que a intertextualidade pode ser rastreada até obras antigas, como é o caso da Bíblia, que já fazia uso do recurso ao incorporar e reinterpretar narrativas.
Exemplos famosos de Intertextualidade na Literatura
Inúmeros exemplos de intertextualidade podem ser encontrados ao longo da história da literatura.
Obras contemporâneas que recriam antigas narrativas, como “Ulisses”, de James Joyce, que estabelece uma relação com a “A Odisseia”, de Homero, ou peças clássicas de Shakespeare, como “Hamlet” e “Rei Lear”, que estabelecem intertextualidade com textos antigos em uma reinterpretação da tradição.
William Shakespeare, aliás, era conhecido por se inspirar em histórias famosas da época, que circulavam através da oralidade, e dar a sua interpretação sobre cada uma delas. As pessoas não iam para o Globe Theatre para necessariamente ver histórias inéditas: iam para ver como Shakespeare contaria essas histórias.
E por falar em Shakespeare, você sabia que a animação “Rei Leão” estabelece uma relação de intertextualidade com a sua peça mais famosa, “Hamlet, O Príncipe da Dinamarca”? É a história de um filho (Simba e Hamlet) que vinga a morte do pai (Mufasa e Hamlet) pelas mãos do Tio (Scar e Cláudio), ambientado em um reino (da selva e da Dinamarca).
No Brasil, um exemplo famoso de intertextualidade é a do poema Canção do Exílio, de Murilo Mendes, que recria os versos do poema Canção do Exílio, do poeta romântico Gonçalves Dias. Veja abaixo: