Em “Gesso e Bronze”, de Castro Alves, o eu-lírico descreve uma cena bastante curiosa, que é construída como uma metáfora para o amor. Na verdade, para dois tipos diferentes de amor.
O poeta descreve uma oficina em que um hábil escultor fez duas estátuas simbolizando o amor: uma de gesso, descrita como pálida e fria, e outra de bronze fiorentino, sendo artisticamente superior. Porém, após um raio, a oficina pegou fogo, e a estátua de bronze, aparentemente mais resistente, derreteu, enquanto a de gesso permaneceu intacta.
A partir dessa cena, o eu-lírico faz um paralelo com o amor, que pode ser construído no coração a partir de diferentes materiais: alguns mais frágeis, outros mais duradouros. Um amor feito de gesso, mais humilde e modesto, quando confrontado com a chama ardente da paixão, pode permanecer de pé; enquanto um de bronze, aparentemente mais firme e valioso, pode ruir já na primeira adversidade.
Gesso e Bronze, de Castro Alves
FOI CANOVA ou Davi… Um mestre, um escultor,
Duas estátuas fez simbolizando o amor…
Uma — pálida e fria, inda amassada em gesso
No canto da oficina ensaio sem apreço!…
Outra — prodígio darte, arrojo peregrino,
Encarnação de luz em bronze fiorentino!…
Uma noite, porém, um raio, o acaso… um nada
O incêndio arremessando à tenda profanada…
No vermelho estendal das cinzas do brasido
Viu-se o esboço de pé!… e o bronze derretido!…
Senhora, Deus também às vezes é escultor,
E gosta de esculpir nos corações o amor…
De argila ou de metal, de barro ou de alabastro
Com o limo com que faz a escuridão e o astro
Mas quando o acaso… um gesto… um riso leviano
Ateia a flama vil de um zelo ardente, insano…
Sabeis o que se dá?
— O amor de gesso medra
De lodo que era há pouco enrija faz-se pedra
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Mas da lava infernal o beijo libertino
Funde a estátua do amor de bronze florentino!!