Fefa, de Auta de Souza – Análise

O poema “Fefa”, de Auta de Souza, retrata a inocência e a pureza através da figura de uma criança.

Fefa, de Auta de Souza

Engraçada e pequenina
Eu imagino-a tão leve
Como uma doce bonina,
Uma açucena de neve.

No rosto, claro e risonho,
Guarda a brancura de um véu;
Traz à mente um casto sonho,
Um sonho vindo do Céu.

Chamam-na Fefa. É tão bela
Como um sorriso sem fim,
Mimosa como uma estrela
E pura como um jasmim…

O nome não lhe vai bem,
Outro melhor lhe cabia:
Àquela nívea cessem
Deviam chamar Maria.

Parece do Céu. É linda
Como um menino Jesus:
Não fala direito ainda
Mas beija sorrindo a Cruz.

Às vezes, junta as mãozinhas
E finge que vai rezar…
Eu penso nas andorinhas:
Quando se põe a rezar
O lábio das criancinhas
É um’asa a palpitar.

Meu Deus! quanta luz se encerra
D’aquela vida no albor…
Protege, Jesus, na terra,
O seio branco da flor.

A alma que tu lhe deste
Guarda-a, Senhor, do martírio:
Derrama o orvalho celeste
No coração d’este lírio!

Serra da Raiz, – Fevereiro de 1898.

Análise do poema “Fefa”

O poema “Fefa” apresenta Fefa, descrita como leve, pura e encantadora, evocando a imagem da infância idealizada, símbolo de esperança e renovação espiritual. A comparação com elementos da natureza – bonina, açucena de neve, estrela, jasmim – reforça o caráter etéreo e imaculado da personagem.

A escolha do nome “Maria” em detrimento de “Fefa” é significativa, evocando a pureza associada à Virgem Maria, figura central do cristianismo, acentuando o aspecto sagrado da infância representada pela personagem. O poema parece sugerir que a inocência das crianças é um reflexo direto da divindade, uma luz que deve ser preservada e protegida.

A expressão da fé infantil, simbolizada pelo ato de beijar a cruz e o gesto de rezar, é carregada de espiritualidade. Esses atos, descritos de maneira a comparar o fervor religioso das crianças com o bater de asas de andorinhas, transmitem uma sensação de pureza, de oração instintiva e natural.

A invocação a Jesus, pedindo proteção para essa pureza inerente à personagem, conclui o poema com uma prece poderosa pela preservação da inocência.

Pintura "woman's face painting", de William Adolphe Bouguereau. Mostra uma jovem menina olhando para baixo, em olhar terno.
Pintura "woman's face painting", de William Adolphe Bouguereau. Mostra uma jovem menina olhando para baixo, em olhar terno.
Avatar photo

Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

You may also like...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O que se aprende no curso de Letras? 5 livros de Cozy Fantasy para escapar da realidade Os 7 Melhores Livros do Kindle Unlimited Teoria liga Anne Hathaway a William Shakespeare 5 obras da Literatura Gótica que você precisa conhecer