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Fatalidade, de Castro Alves

Em “Fatalidade”, de Castro Alves, um ótimo exemplo das principais características do romantismo brasileiro, o eu-lírico lamenta a perda de sua amada.

Ele se descreve como alguém que, no passado, foi orgulhoso, triste, solitário, mas que teve uma mudança repentina e drástica na vida após conhecer um amor verdadeiro e profundo, que o mudou completamente: passou a acreditar e a aproveitar a vida, caminhando não mais pelas sombras, mas pela luz. Porém, sua vida voltou a piorar após a morte de sua amada, como se ele estivesse predestinado a uma vida de sofrimento, amargura, lamento e dor.

Ele termina aceitando esse destino inevitável, mas pede que, ao menos, quando sua amada estiver passando pelos céus, como uma estrela brilhante, que ela ilumine novamente o seu caminho, retirando-o da escuridão do pesar.

Fatalidade, de Castro Alves

DAMA NEGRA

Que fatalidade, meu pai!
ÁLVARES DE AZEVEDO

ADEUS! ADEUS! ó meu extremo abrigo!
Adeus! eu digo-te a chorar de dor!
É o derradeiro suspirar das crenças,
Que se despedem das visões do amor…

Pálido e triste atravessei a vida
Sempre orgulhoso, concentrado e só…
É que eu sentia que um fadário estranho
Meus sonhos todos reduzia a pó.

Mas tu vieste… E acreditei na vida…
Abri os braços… caminhei pra luz…
E a borboleta da fatal crisálida
Soltou as asas pelos céus azuis.

O tronco morto — refloriu de novo
Ergue-se vivo, perfumado, em flor,
Abençoando a primavera amiga…
Ai! primavera de meu santo amor!

Porém que importa, se há fadários negros. .
Frontes — voltadas do sepulcro ao chão…
Pedras coladas de um abismo à beira…
Astros sem norte, de um cruel clarão!

Quem mostra o trilho ao viajor das sombras?
Quem ergue o morto que esfriou o pó?
Quem diz à pedra que não desça ao pego?
Quem segue a estrela desgraçada e só?

Ninguém!… Na terra tudo vai… gravita
Lá para o ponto que lhe marca Deus.
Os raios tombam — as estrelas sobem!…
Lutar co’a sorte — é combater os céus!

“Vai! pois, é rosa, que em meu seio, outrora
Acalentava a suspirar e a rir…
Deixas minha alma como um chão deserto,
Vai! flor virente! mais além florir …

“Vai! flor virente! no rumor das festas,
Entre esplendores, como o sol, viver
Enquanto eu subo tropeçando incerto
Pelo patiblo — que se diz sofrer! …
……………………………………..

Que resta ao triste, sem amor, sem crenças?
— Seguir a sina… se ocultar no chão …
… Mas, quando, estrela! pelo céu voares,
Banha-me a lousa de feral clarão!…

Pintura "O Naufrágio da Esperança", também conhecida como "O Mar de Gelo", do pintor alemão Caspar David Friedrich. Ilustrando o poema "Fatalidade", de Castro Alves.
Pintura "O Naufrágio da Esperança", também conhecida como "O Mar de Gelo", do pintor alemão Caspar David Friedrich. Ilustrando o poema "Fatalidade", de Castro Alves.

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