5 ensinamentos do Príncipe, de Maquiavel, mais atuais que nunca

Nicolau Maquiavel escreveu O Príncipe há mais de 500 anos, em um contexto de crises, intrigas e lutas pelo poder na Itália renascentista. Longe de ser um manual de maldade, a obra é um estudo direto — e muitas vezes incômodo — sobre como o poder realmente funciona. Polêmica desde seu lançamento, a obra gerou admiração e repulsa, sendo até censurada pela Igreja.

Ao contrário da imagem popular de que Maquiavel glorifica a astúcia e a manipulação, ele faz algo mais provocador: expõe o jogo sujo da política e da liderança como sempre foi — e, para muitos, como ainda é. Não é sobre o que “deveria” ser, mas sobre o que é necessário fazer para conquistar e manter o poder em um mundo imperfeito.

E o que isso tem a ver com o mundo de hoje? Tudo. Da política ao mundo corporativo, passando pelo marketing e até pelo LinkedIn, os conselhos de O Príncipe continuam ecoando — seja como estratégia ou como alerta. Por isso, vamos explorar 5 ensinamentos de Maquiavel que continuam atuais e podem ajudar você a entender melhor as dinâmicas de poder, influência e liderança.

Retrato estilizado de Nicolau Maquiavel e César Bórgia sobre fundo azul claro com elementos gráficos modernos, como corações de rede social e olhos de brinquedo. Maquiavel aparece em primeiro plano, com vestimenta renascentista escura, enquanto César Bórgia, com traje típico da nobreza italiana, está ao fundo. A composição cria uma conexão visual entre o autor de O Príncipe e sua inspiração, representando o vínculo entre poder, estratégia e liderança.


5. Evite ser odiado, mesmo sendo temido (Cap. XVII)

“É melhor ser temido do que amado, se não puder ser ambos.” – Nicolau Maquiavel

Maquiavel é direto: o medo é uma ferramenta poderosa para o líder manter o controle. Mas ele faz um alerta importante: ser odiado é um erro fatal, porque o ódio gera ressentimento e conspirações, que costumam ser o fim de muitos líderes. Para ele, o segredo é encontrar o equilíbrio: impor respeito sem ser cruel ou injusto.

Essa lição surge de exemplos como o de César Bórgia, que usou da crueldade para pacificar a Romanha, restabelecendo a ordem com firmeza. Para Maquiavel, essa ação, embora dura, foi mais piedosa do que a negligência dos florentinos, que, por medo de serem cruéis, permitiram que Pistóia fosse destruída em um conflito interno.

🧩 Lições para o mundo atual:

  • Respeito e não terror: Ser um líder firme não significa ser tirano. Líderes eficazes, seja na política ou nas empresas, impõem respeito com decisões justas, mesmo que impopulares, mas evitam humilhar ou abusar do poder.
  • Empatia na disciplina: Maquiavel não sugere crueldade gratuita. No mundo corporativo, isso se traduz em demissões justas, com comunicação clara, e decisões difíceis explicadas com transparência.

📌 Exemplos atuais:

  • Políticos que equilibram firmeza e aprovação popular: Líderes que sabem tomar decisões difíceis (como reformas impopulares), mas que comunicam bem suas razões e mantêm o apoio popular.
  • CEOs exigentes, mas respeitados: Empresas bem-sucedidas costumam ter líderes que cobram alta performance, mas reconhecem e valorizam seus times. Pense em gestores que enfrentam crises com decisões firmes, mas que mantêm a confiança da equipe porque são transparentes e justos.

💡 Lição prática:

  • Não confunda temor com tirania: Maquiavel diz que o medo é eficiente porque nasce da lógica — o medo vem do risco de punição. Já o ódio nasce da injustiça e do abuso. Por isso, é possível ser firme sem ser odiado, desde que:
    • Respeite o que é mais importante para as pessoas: sua dignidade, seus bens e seus valores.
    • Seja claro e justo ao tomar decisões difíceis: A transparência e a coerência constroem uma reputação de firmeza sem crueldade.
    • Administre crises com empatia: Em momentos difíceis, é melhor ser duro nas decisões, mas humano na comunicação.

Um alerta de Maquiavel:

As pessoas perdoam mais rápido a perda de um ente querido do que a perda do próprio patrimônio. Ou seja, mexer com o bolso das pessoas gera rancor duradouro. Governos que aumentam impostos sem justificativa ou empresas que cortam benefícios de forma abrupta costumam pagar o preço da impopularidade.


4. Aparência importa mais do que realidade (Cap. XVIII)

“Os homens julgam mais com os olhos do que com as mãos.” – Nicolau Maquiavel

Para Maquiavel, as aparências moldam a percepção, e a percepção molda o poder. O mundo não é governado pela verdade, mas pela imagem que as pessoas constroem sobre você. Essa ideia, provocadora e muitas vezes incômoda, é mais atual do que nunca — basta olhar para o poder das redes sociais, da publicidade e da comunicação corporativa. Você realmente conhece aquele influenciador que segue, ou apenas a imagem que ele artificialmente construiu e quer que você conheça?

🧠 O que Maquiavel realmente quer dizer:

  • Ele não defende a mentira pura e simples, mas sim a importância da estratégia e da narrativa. Como o centauro Quíron, meio homem e meio animal, o líder precisa combinar a astúcia da raposa (para escapar das armadilhas) com a força do leão (para dominar seus inimigos).
  • Para ele, o que conta é o resultado. Se as aparências são convincentes, poucos questionarão os meios. Afinal, o público em geral vê o que você parece ser, mas poucos conhecem sua verdadeira natureza — e, entre esses poucos, poucos se arriscam a desmentir a versão pública.

📌 Exemplos claros no mundo atual:

  • CEOs carismáticos e líderes midiáticos: Muitos líderes corporativos constroem suas reputações mais com discursos inspiradores do que com planilhas. Sabem vender a visão de futuro da empresa, mesmo que os números estejam no vermelho.
  • Influenciadores digitais: Pessoas que constroem suas carreiras com base em uma narrativa pessoal poderosa. Não importa tanto quem realmente são, mas como se posicionam online, e como isso gera engajamento e autoridade.
  • Políticos e a política de imagem: Campanhas eleitorais bem-sucedidas são, muitas vezes, mais sobre o que o candidato parece representar do que sobre suas propostas reais.

🧩 O perigo da imagem sem substância:

No entanto, Maquiavel alerta: apenas parecer não basta se, ao final, você não entregar resultados. O príncipe que se apoia só em promessas vazias perde credibilidade quando a realidade bate à porta.

Alexandre VI, citado por Maquiavel, foi um mestre em enganar aliados e inimigos com palavras doces e falsas promessas — mas acabou preso no próprio jogo de mentiras quando perdeu aliados importantes. Ou seja, aparência sem estratégia é um castelo de cartas, que pode desmoronar a qualquer momento.

💡 Lição prática para o mundo moderno:

  • Construa sua narrativa com consistência: O marketing pessoal e corporativo deve ter uma mensagem clara e alinhada com seus objetivos. Pessoas e marcas que sabem contar boas histórias geram engajamento e confiança.
  • Seja estratégico, mas ético: Maquiavel sugere dissimulação estratégica, mas, no mundo conectado de hoje, a transparência e a autenticidade constroem valor a longo prazo. O segredo é equilibrar imagem pública e substância real.
  • Adapte-se conforme o vento: Líderes que permanecem rígidos em suas aparências perdem relevância quando o contexto muda. Quem sabe ajustar sua narrativa sem perder a essência se mantém forte.

A verdade de Maquiavel:

“Um príncipe não precisa possuir todas as virtudes, mas deve parecer tê-las. E, se necessário, deve saber agir de forma contrária ao que aparenta.”

Não é sobre ser falso, mas sobre entender que a percepção molda a realidade. E, em um mundo onde a primeira impressão é formada em segundos, quem domina a narrativa tem o poder.


3. Previna problemas antes que cresçam (Cap. III)

“Trate as doenças no começo.” – Nicolau Maquiavel

Maquiavel é categórico: os grandes desastres começam como pequenos problemas ignorados. No mundo da política, ele observou que crises que poderiam ser contidas logo no início se tornavam catastróficas por negligência. No mundo atual, essa lição vale para governos, empresas e até para a vida pessoal.

🧠 O que Maquiavel realmente ensina:

  • Ele compara os problemas políticos a doenças: fáceis de tratar no início, mas quase incuráveis quando avançam.
  • Segundo ele, governantes prudentes identificam os sinais de crise cedo e agem com rapidez, mesmo que isso envolva decisões difíceis.
  • Esperar demais, diz Maquiavel, é adiar a crise — não evitá-la.

💡 Exemplos históricos de Maquiavel:

  • Os Romanos, segundo ele, eram mestres em agir preventivamente. Em vez de esperar a guerra bater à porta, atacavam primeiro, sempre que percebiam uma ameaça crescente. Foi assim que evitaram que Filipe da Macedônia e Antíoco levassem o conflito para Roma, preferindo lutar na Grécia.
  • Por outro lado, Luís XII da França, que Maquiavel critica duramente, perdeu o controle da Lombardia porque ignorou os sinais de instabilidade, confiando em alianças frágeis e só agindo quando era tarde demais.

📌 Exemplos atuais de ação (ou omissão):

  • Empresas que respondem rápido às crises: Grandes marcas que agiram rapidamente diante de polêmicas evitaram boicotes maiores, como casos de recalls imediatos ou mudanças rápidas em campanhas publicitárias problemáticas.
  • Governos que antecipam crises sanitárias: Países que reagiram cedo à COVID-19, com testagens e lockdowns rápidos, reduziram mortes e impactos econômicos. Já os que demoraram a agir enfrentaram colapsos no sistema de saúde.

⚠️ Os perigos de ignorar sinais:

  • Empresas que subestimaram riscos: Lembra do caso da Blockbuster, que ignorou o potencial da Netflix até ser tarde demais? Um clássico exemplo de desprezo pelos sinais precoces de mudança.
  • Plataformas de redes sociais que negligenciaram discursos de ódio: Algumas só agiram após grandes crises de imagem, quando o prejuízo reputacional já estava feito.

💪 A lição prática de Maquiavel para hoje:

Identifique os sinais cedo: Use pesquisas, monitoramento de tendências e escuta ativa para detectar possíveis crises antes que cresçam.
Planeje estratégias preventivas: Tenha protocolos claros de resposta a crises, seja em gestão de riscos empresariais ou em crises públicas.
Resolva com firmeza, mas com estratégia: Não fuja de decisões difíceis. Como diz Maquiavel, às vezes é melhor agir com dureza de uma vez do que adiar e enfrentar um problema muito maior depois.
Lembre-se do custo da inação: Adiar um problema quase sempre aumenta seus danos e custos.

Maquiavel em uma frase:

“A guerra não se evita, apenas se adia para benefício do inimigo.”

Em resumo, Maquiavel não diz para ser paranoico, mas para ser estrategicamente vigilante. No mundo atual, onde crises se espalham rápido e as redes sociais amplificam erros, a prevenção é o melhor escudo — e a ação rápida, a melhor espada.


2. Use a fortuna, mas não dependa dela (Cap. XXV)

“A sorte pode ajudar, mas não deve ser seu plano.” – Nicolau Maquiavel

Maquiavel reconhece o papel da sorte (fortuna) nos sucessos e fracassos da vida, mas é claro ao afirmar: contar só com a sorte é pedir para fracassar. A verdadeira força está na preparação e na capacidade de adaptação.

🧠 O que Maquiavel realmente ensina:

  • Ele compara a sorte a um rio torrencial: quando as águas transbordam, destroem tudo pelo caminho. No entanto, quem constrói diques e anteparos durante a calmaria consegue controlar a força da correnteza. Ou seja, o inesperado virá — a questão é se você estará preparado ou não.
  • Segundo ele, a fortuna (sorte) governa metade da nossa vida, mas a outra metade é moldada por nossas escolhas e nossa capacidade de adaptação.
  • O maior erro, segundo Maquiavel, é ser obstinado em uma estratégia única, mesmo quando os tempos mudam. O líder sábio muda seu estilo conforme o momento.

💡 Exemplos históricos de Maquiavel:

  • O Papa Júlio II é um exemplo de como o ímpeto e a coragem podem transformar sorte em sucesso. Ele agiu rapidamente ao atacar Bolonha, sem esperar que alianças estivessem totalmente seguras — e venceu, porque pegou seus adversários de surpresa.
  • Já Luís XII da França perdeu o domínio da Lombardia porque confiou demais nas alianças e não se adaptou às mudanças de cenário político — mostrando que quem se prende a um único plano está sempre à mercê da sorte.

📌 Exemplos atuais de adaptação e preparo:

  • 🚀 Empreendedores que inovam e arriscam: Startups como a Airbnb e a Uber não esperaram “o momento certo” — criaram novas oportunidades em momentos de crise, reinventando mercados tradicionais.
  • 🏢 Empresas que se adaptam ao mercado: A Netflix começou alugando DVDs, mas mudou o modelo de negócio para streaming quando viu a tendência crescer. Enquanto isso, a Blockbuster insistiu em seu modelo tradicional — e perdeu.
  • 🏥 Governos que se preparam para crises: Países que mantêm planos de contingência para desastres naturais ou pandemias sofrem menos quando a crise chega.

💪 Lição prática de Maquiavel para hoje:

Invista em preparo contínuo: Faça cursos, estude seu mercado e construa uma rede de contatos. Quem está preparado aproveita as oportunidades quando elas surgem.
Tenha um plano B — e C: Maquiavel dizia que a sorte muda, mas quem tem diversas estratégias nunca fica sem saída.
Seja flexível e adaptável: Em tempos de mudança, quem se ajusta rápido ao novo cenário tem mais chances de sucesso.
Não espere o momento perfeito: Muitas vezes, é melhor agir com coragem no momento oportuno do que perder a chance esperando condições ideais.


1. Conquistar é fácil, manter é difícil (Cap. III)

“Ganhar poder é uma coisa. Mantê-lo é outra.” – Nicolau Maquiavel

Maquiavel nos alerta: chegar ao topo é desafiador, mas permanecer lá é o verdadeiro teste de liderança. Muitas conquistas se perdem por má gestão, falta de estratégia ou descuido com aliados e o ambiente em que se atua.

🧠 O que Maquiavel ensina:

  • Conquistar é rápido, mas manter exige estratégia: Ao conquistar um novo território ou posição, os primeiros inimigos são aqueles que perderam poder, e os segundos, aqueles que ajudaram você a chegar lá e agora esperam recompensas.
  • Poder sem apoio é instável: Para manter o domínio, o líder deve saber equilibrar firmeza e diplomacia, cuidando de aliados e prevenindo revoltas.
  • Identifique problemas antes que cresçam: Desordens são mais fáceis de controlar quando estão no começo. Esperar demais torna a solução mais difícil

📜 Exemplos históricos de Maquiavel:

  • Luís XII da França e o fracasso em Milão: Conquistou Milão rapidamente, mas a perdeu por não fortalecer seu domínio local e por se aliar a novos inimigos, como o Papa Alexandre VI. Maquiavel aponta: quem conquista e não consolida sua posição perde tudo rapidamente.
  • Os Romanos e sua estratégia de poder duradouro: Após conquistar a Grécia, os romanos implantaram colônias e destruíram qualquer ameaça futura, garantindo controle estável. Eles não apenas venciam guerras; dominavam com estratégia e prevenção.

🧩 Exemplos atuais de sucesso e fracasso na manutenção do poder:

  • Empresas que perderam relevância:

    • Kodak: Era líder em fotografia, mas ignorou a revolução digital, confiando demais em seu domínio e perdendo mercado para concorrentes inovadores.
    • Blockbuster: Dominava o mercado de locação, mas não se adaptou ao streaming, sendo superada pela Netflix.
    • Influenciadores que perderam espaço: Muitos criadores de conteúdo viralizam e conquistam milhões de seguidores, mas desaparecem por não inovar ou manter relevância, enquanto outros se mantêm adaptando suas estratégias e formatos.
  • Empresas que se reinventaram para se manter líderes:

    • Apple: Após o sucesso do iPod, continuou inovando com o iPhone, criando um ecossistema tecnológico que mantém clientes fiéis.
    • Microsoft: Saiu da sombra do Windows e se reinventou com a nuvem (Azure), consolidando sua posição no mercado.

💡 Lições práticas de Maquiavel para manter o sucesso:

Construa alianças sólidas: Mantenha parceiros e clientes satisfeitos — eles são essenciais para sua continuidade.
Identifique riscos antes que virem crises: Fique atento às mudanças de mercado, tendências e insatisfações internas.
Inove continuamente: O sucesso de hoje não garante o de amanhã. Reinveste-se antes que a concorrência o faça por você.
Cuide da sua base: Clientes fiéis e comunidades engajadas são mais difíceis de perder se você mantiver o relacionamento.
Seja estratégico com rivais: Muitas vezes, é melhor neutralizar ou cooptar um concorrente do que entrar em guerra com ele.


Mesmo tendo sido escrito há mais de 500 anos, O Príncipe, de Maquiavel, continua incrivelmente atual. Suas lições vão muito além da política, trazendo insights valiosos para o mundo dos negócios, do marketing e até para nossas decisões pessoais.

Seja ao enfrentar crises, construir uma reputação ou manter o sucesso conquistado, as estratégias de Maquiavel nos ensinam que preparo, estratégia e adaptação são essenciais para sobreviver em um mundo competitivo e imprevisível.

Agora, eu te pergunto:

👉 Qual desses ensinamentos você considera mais importante para os dias de hoje? É a importância da imagem, a preparação para os imprevistos ou a capacidade de manter o sucesso? Comenta aí!

Avatar photo

Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

You may also like...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O que se aprende no curso de Letras? 5 livros de Cozy Fantasy para escapar da realidade Os 7 Melhores Livros do Kindle Unlimited Teoria liga Anne Hathaway a William Shakespeare 5 obras da Literatura Gótica que você precisa conhecer