— Para que se deu em sacrifício, o Homem Deus, que ali exalou seu derradeiro alento? Ah! Então não era verdade que seu sangue era o resgate do homem! É então uma mentira abominável ter esse sangue comprado a liberdade!? E depois, olhai a sociedade… Não vedes o abutre que a corrói constantemente!… Não sentis a desmoralização que a enerva, o cancro que a destrói?
Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e sempre será um grande mal. Dela a decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado.
REIS, M. F. Úrsula e outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018
[ENEM 2022] Inscrito na estética romântica da literatura brasileira, o conto descortina aspectos da realidade nacional no século XIX ao:
A) revelar a imposição de crenças religiosas a pessoas escravizadas.
B) apontar a hipocrisia do discurso conservador na defesa da escravidão.
C) sugerir práticas de violência física e moral em nome do progresso material.
D) relacionar o declínio da produção agrícola e comercial a questões raciais.
E) ironizar o comportamento dos proprietários de terra na exploração do trabalho.
Resposta correta e explicação
A resposta correta para a pergunta é a ALTERNATIVA B.
No conto “A escrava”, encontramos um posicionamento crítico em relação ao discurso conservador escravocrata que permeava o século XIX. Através da fala da senhora abolicionista, a autora expressa seu espanto diante da capacidade de algumas pessoas em sentirem e expressarem sentimentos escravocratas, mesmo em uma época em que a moral religiosa e cívica deveriam falar mais alto.
Ao destacar a hipocrisia presente nesse discurso conservador, a autora nos convida a refletir sobre a contradição entre a defesa da escravidão e os valores morais que deveriam guiar a sociedade. Ela critica a ideia de que o sangue do Homem Deus, derramado no Gólgota, não teria servido como resgate à liberdade, questionando a validade de se ter o sangue comprado em troca da liberdade.
Dessa forma, podemos afirmar que o conto “A escrava” descortina aspectos da realidade nacional no século XIX ao apontar a hipocrisia do discurso conservador na defesa da escravidão.
Maria Firmina dos Reis busca, através de sua obra, evidenciar o mal que a escravidão representa para a sociedade como um todo. A autora não apenas critica a escravidão como instituição, mas também demonstra como ela afeta a economia do país, uma vez que o trabalho do escravo é forçado e não permite o pleno desenvolvimento do comércio e da lavoura.
Portanto, ao escolher a alternativa B como resposta, podemos compreender que o conto “A escrava” insere-se na estética romântica da literatura brasileira ao denunciar a hipocrisia do discurso conservador escravocrata e ao revelar aspectos críticos da realidade nacional do século XIX.
Esse conto é uma importante obra que contribui para a reflexão sobre a abolição da escravidão e para a compreensão dos dilemas e violações de direitos humanos enfrentados pelos escravizados naquela época.