Doente, de Auta de Souza – Análise

O poema “Doente”, de Auta de Souza, apresenta uma relação intensa entre o eu lírico e a lua, representando uma busca por consolo e compreensão diante dos sofrimentos internos.

“Doente”, de Auta de Souza

A lua veio… foi-se… e em breve ainda,
Há de voltar, a doce lua amada,
Sem que eu a veja, a minha fada linda,
Sem que eu a veja, a minha boa fada.

Ela há de vir, Ofélia desmaiada,
Sob as nuvens do céu na alvura infinda
Do seu branco roupão, noiva gelada,
Boiando à flor de um rio que não finda.

Ela há de vir, sem que eu a veja… Entanto,
Com que tristezas e saudoso encanto
Choro estas noites que passando vão…

Ó lua! mostra-me o teu rosto ameno:
Olha que murcha à falta de sereno
O lírio roxo do meu coração!

Análise do poema “Doente”

Em “Doente”, Auta de Souza evoca a lua como uma figura recorrente, uma presença tanto física quanto emocional que marca o tempo e as fases do sofrimento do eu lírico. A ida e vinda da lua reflete a natureza cíclica do sofrimento: assim como a lua governa as marés, parece também governar as emoções.

A lua é personificada como “a doce lua amada”, “fada linda” e “Ofélia desmaiada”, invocando imagens de carinho e fragilidade. Há uma referência à personagem Ofélia, da peça Hamlet, de William Shakespeare, que, enlouquecida, acaba morrendo (ou se suicidando) afogada em um rio enquanto tenta apanhar flores em um galho, reforçando a atmosfera de declínio e desesperança. A “Ofélia desmaiada” sugere uma beleza etérea, mas também remete à morte, ao desfalecimento, trazendo ao poema um tom ainda mais sombrio.

O “branco roupão” que a lua veste simboliza pureza e, ao mesmo tempo, luto. A lua, como “noiva gelada”, cria um contraste entre amor e morte, desejo e a frieza. Ela também “boia à flor de um rio que não finda”, que podemos interpretar como a passagem ininterrupta do tempo e o fluxo da vida, no qual o eu lírico se sente preso.

A terceira estrofe termina com uma expressão de desejo e saudade, onde o eu lírico lamenta as noites perdidas. Há nelas uma mistura de beleza e tristeza.

No último verso, a lua é convocada a revelar seu “rosto ameno”, sugerindo uma busca por paz ou um conforto. O “lírio roxo do meu coração” resume a fragilidade e a beleza dolorosa das emoções do eu-lírico, que parecem definhar sem o “sereno” – que aqui pode ser interpretado tanto como a umidade noturna que nutre as plantas quanto como a influência tranquilizadora da lua.

Doente, de Auta de Souza - Análise
Pintura "November Moonlight", de John Atkinson Grimshaw
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Alexandre Garcia Peres

Criador do site Literatura Online e Redator, Editor e Analista de SEO com três anos de experiência. Formado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com foco em literatura e TCC em Paulo Leminski. Fez um ano de especialização em Teoria da Literatura e sua maior área de interesse é a poesia brasileira, principalmente os poetas da segunda e terceira geração do romantismo.

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