Quando estudamos a linguística, encontramos contribuições inestimáveis de Ferdinand de Saussure, cuja dicotomia entre “langue” e “parole” permanece como um conceito-chave para a compreensão da linguagem humana.
O que é Langue para Saussure?
Para Saussure, “langue” é a base sobre a qual a comunicação se estabelece: um sistema léxico e gramatical que habita a consciência coletiva de uma comunidade linguística. É o conhecimento que todos os falantes de um determinado idioma partilham, muitas vezes de forma inconsciente.
Mais do que isso, a “langue” funciona independentemente das escolhas individuais de cada falante, sendo uma estrutura que os falantes da mesma língua aprendem e utilizam ao longo da vida.
Neste sistema, encontramos as regras e relações que governam a linguagem e permitem aos membros dessa comunidade se comunicarem de maneira efetiva e conjunta.
O que é Parole para Saussure?
Por outro lado, “parole” é a expressão de cada indivíduo, é o uso desse sistema: o ato de falar, a seleção de palavras e estruturas gramaticais para transmitir pensamentos e ideias específicas em situações concretas de comunicação.
São estes “atos de fala” que refletem as escolhas pessoais dos indivíduos e que possuem as nuances e variações de cada falante e do contexto em que ele está.
Qual a diferença no fim das contas?
A dicotomia (distinção) proposta por Saussure estabelece “langue” como o conjunto de regras potenciais e “parole” como a realização ativa dessas normas.
A “langue” é o que é compartilhado e constante entre os falantes, enquanto “parole” é o uso variável e momentâneo de todas as possibilidades que o sistema de regras dispõe.
As inovações na fala surgem na “parole”, mas apenas passam a fazer parte da “langue” quando são amplamente adotadas pela comunidade linguística.
Por exemplo: de tanto abreviarem no dia a dia “vossa mercê”, essa expressão foi encurtada para “vosmecê” e posteriormente para “você”. Esse “encurtamento” aconteceu na parole, no uso cotidiano e individual dos falantes, mas foi posteriormente integrado na “langue”, passando a fazer parte das regras do português.
A relação entre essa dicotomia e a Linguística Estrutural
Essa dicotomia introduzida por Saussure ajudou no surgimento da Linguística Estrutural, na qual os linguistas se concentram na análise da “langue”, procurando entender as estruturas que possibilitam a comunicação.
A “langue” oferece um modelo teórico para o estudo das línguas enquanto sistemas de regras, permitindo que a variabilidade observada na “parole” seja contextualizada dentro do quadro de regras e relações da “langue”.
Entendendo a “langue” como uma entidade sociocultural, que vai além do indivíduo, e a “parole” como a manifestação individual dentro desse sistema, a dicotomia entre “langue” e “parole” continua sendo um ponto de partida fundamental para analisar e compreender os aspectos estruturais e funcionais da linguagem.