A poesia enquanto forma de expressão íntima revela as nuances do sentir humano com imagens evocativas que tocam o coração e a imaginação do leitor. Auta de Souza, poetisa brasileira do fim do século XIX, cujo lirismo reflete a delicadeza de seus sentimentos e sua fina percepção da realidade, ilustra este aspecto literário com maestria em seu poema dedicado a “Carlota Valença“.
Através de imagens sensíveis e simbolismo rico, Souza constrói uma homenagem carregada de beleza e subjetividade em pouquíssimos versos.
“Carlota”, de Auta de Souza
Quis bordar teu nome amado
E roubei uns fios de ouro
Das tranças de teu cabelo
Tão longas e perfumadas…
Depois do nome bordado
Com aquele cabelo louro,
Cuidei ver o Sete-Estrelo
Nas sete letras douradas.
Análise do poema “Carlota”
O poema “Carlota”, de Auta de Souza, é um poema de amor e admiração, girando em torno do bordado – metáfora central. A ação de “bordar o nome amado” com “uns fios de ouro” roubados das “tranças” de Carlota, além de demonstrar cuidado e intimidade, simboliza um ato de apropriação afetuosa e idealização.
O ouro, elemento nobre e valioso, remete não somente ao valor que a poetisa atribui a Carlota, mas também à ideia de eternidade. As “tranças” não são apenas descrição de um atributo físico, mas uma extensão da própria Carlota, de onde os fios dourados são extraídos, significando que a homenagem que está sendo tecida é parte íntegra da persona homenageada.
Essa relação entre o nome de Carlota e o bordado culmina na visão do “Sete-Estrelo“, que no folclore brasileiro corresponde à constelação do Cruzeiro do Sul. A percepção dessa constelação nas “sete letras douradas” é a transformação poética do nome bordado numa entidade cósmica, atribuindo a Carlota uma dimensão mítica e universal, quase celeste.
A quantidade de letras do nome – sete – e sua associação com as estrelas é sugestiva. O número sete é frequentemente implicado como símbolo de perfeição e totalidade em várias culturas e tradições. Tal escolha reforça a representação de Carlota como um ser completo e perfeito aos olhos da autora.
Este poema de Auta de Souza, breve em extensão mas profundo em significado, usa da brevidade para refletir a efemeridade, comuns em muitos de seus outros trabalhos e intrínsecos também à condição humana, que a poetisa tão bem captura em versos.