A literatura contemporânea, que começou a se consolidar a partir da década de 1960, e se estende até os dias atuais, é reflexo de um período de profundas transformações sociais, culturais e políticas. No Brasil, ela incorpora tanto o contexto histórico global quanto as especificidades locais, como os efeitos da Ditadura Militar e a evolução das vanguardas artísticas.
A pluralidade de vozes e a experimentação de formas são algumas das principais características da Literatura Contemporânea, que busca representar a complexidade desse mundo moderno em que vivemos.
As principais características da Literatura Contemporânea
- Mistura de tendências estéticas: O ecletismo é uma das principais características, misturando elementos de várias escolas literárias anteriores, como o Modernismo, o Concretismo e o Regionalismo. Um exemplo dessa mistura é o livro Catatau (1975), de Paulo Leminski, que une experimentalismo linguístico (influência do concretismo) com a reflexão filosófica, típica do modernismo
- União da arte erudita e popular: A literatura contemporânea dialoga com várias esferas culturais, unindo a alta cultura com elementos populares e de massa. Um exemplo é Ariano Suassuna, que em Auto da Compadecida (1955) conecta tradições populares do sertão nordestino com elementos da literatura clássica e do teatro europeu.
- Prosa histórica, social e urbana: Essa literatura muitas vezes reflete também a realidade social e histórica, explorando cenários urbanos e temas atuais. Chico Buarque, em Budapeste (2003), examina a vida de um ghostwriter no cenário globalizado e multicultural de Budapeste e Rio de Janeiro, capturando a complexidade das grandes cidades e os dilemas da vida moderna.
- Poesia intimista, visual e marginal: A poesia desse período é marcada por uma exploração do eu, além de experimentar formas visuais e linguagens marginalizadas. Um exemplo é Adélia Prado, cuja poesia em Bagagem (1976) reflete uma sensibilidade religiosa e cotidiana, enquanto o já mencionado Paulo Leminski e a geração da poesia marginal, com Distraídos Venceremos (1987), experimentam com uma linguagem simples e coloquial, além de visualidades poéticas, que remetem ao concretismo.
- Temas cotidianos e regionalistas: As obras frequentemente abordam temas comuns do dia a dia e regionais, promovendo uma diversidade cultural, como em Poemas dos Becos de Goiás (1965), de Cora Coralina, que traz a simplicidade do cotidiano no interior de Goiás, com uma linguagem acessível e profundamente ligada à cultura regional
- Engajamento social e literatura marginal: A literatura marginal, muitas vezes associada à contestação social, é um dos traços fortes dessa época: Carolina Maria de Jesus, em Quarto de Despejo (1960), revela a dura vida nas favelas, tornando-se uma das vozes mais significativas da literatura contemporânea.
- Experimentalismo formal: Os autores exploram novas técnicas, como o uso de colagens, montagens e diferentes recursos gráficos. Haroldo de Campos e Décio Pignatari, com a poesia concreta, exploram o uso visual das palavras.
- Formas reduzidas: Minicontos e minicrônicas se tornaram comuns, refletindo uma busca por formas mais concisas e diretas de expressão. Alguns exemplos de autores são Dalton Trevisan e Luis Fernando Veríssimo.
- Intertextualidade e metalinguagem: As obras frequentemente dialogam com outros textos e fazem referências à própria construção do texto literário. O moçambicano Mia Couto mistura tradição oral africana com literatura ocidental, e sua obra Terra Sonâmbula (1992) é um ótimo exemplo.
Autores e obras famosas
Entre os principais autores da literatura contemporânea brasileira, destaca-se Ariano Suassuna, famoso por “Auto da Compadecida” (1955), que mistura humor e crítica social, além de referências à cultura popular nordestina. Adélia Prado, conhecida por sua poesia sensível e voltada para temas cotidianos, lançou “Bagagem” (1976), uma de suas obras mais relevantes. Caio Fernando Abreu, um dos grandes nomes da literatura contemporânea, abordou questões existenciais e urbanas em “Morangos Mofados” (1982).
Na poesia, Cora Coralina deixou sua marca com “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais” (1965), retratando a simplicidade da vida no interior, enquanto Ferreira Gullar escreveu “Poema Sujo” (1976), um marco da poesia social no Brasil.
Por fim, o romancista Milton Hatoum, em “Dois Irmãos” (2000), explora as complexas relações familiares e culturais na Amazônia, refletindo a diversidade e as tensões do Brasil contemporâneo.